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CLÓVIS ROSSI
Sobra dinheiro? Põe dinheiro
HELSINQUE - As idas e vindas
nos mercados financeiros são um
denso mistério para você? Pois entre em pânico: são também um denso mistério para as autoridades globais, que deveriam pelo menos entendê-las para controlá-las.
O raciocínio é desenvolvido com
uma clareza fenomenal por Ángel
Ubide, colunista do espanhol "El
País", que começa lembrando que
todo mundo falava, nos últimos
meses, de "excesso de liqüidez", dinheiro demais em circulação.
Veio a turbulência "e os bancos
centrais acrescentaram liqüidez de
maneira indiscriminada -quer dizer, acrescentaram liqüidez a uma
situação de excesso de liqüidez para
resolver uma crise de liqüidez. Algo
não fecha".
Fecha, sim, explica Ubide em seguida: "O problema é que não vivíamos em um mundo de excessiva liqüidez no sentido tradicional, mas
em um mundo de excessiva alavancagem [um empréstimo alavancado
por outro], às vezes não bem compreendido pelas autoridades".
Acrescento eu: os especialistas
também estavam distraídos, tanto
que previam crescimento de 110 mil
empregos nos EUA. Deu queda de 4
mil. E tome turbulência.
O esquema corresponde a vender
seguro contra uma catástrofe de
ocorrência altamente improvável.
Um tsunami no Brasil, digamos.
Como, mês a mês, ano a ano, a catástrofe não ocorre, quem vendeu o
seguro consegue uma renda líqüida,
certa -e estável. Aí, vem o tsunami
e leva tudo.
Por sorte, não aconteceu (ainda)
um tsunami nas finanças globais.
Talvez nem ocorra. Mas Ubide lembrava, antes da nova turbulência,
que a injeção de liqüidez pode até
ter resolvido o falso problema da
"crise de liqüidez", mas não foi superada a "crise de confiança", que
se tornou o verdadeiro problema.
Tanto que, na Europa, os juros a
três meses estão mais elevados que
no início da confusão. Não dá pois
para relaxar e gozar.
crossi@uol.com.br
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