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Inculta e bela
O DICIONÁRIO "Aurélio" define biblioteca como uma
coleção de livros e documentos, organizada para estudo,
leitura e consulta. Se tomassem
como referência a Biblioteca Nacional de Brasília, os autores da
publicação teriam de reescrever
o verbete. Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, inaugurado duas vezes no ano passado, o
belo edifício não tem livros em
suas estantes -nele, ninguém
estuda, lê nem consulta nada.
Construída por R$ 42 milhões
pelo governo do Distrito Federal
ao longo de dois mandatos, a biblioteca tem capacidade para receber 250 mil livros, mas está fechada, sem data para abertura,
porque a administração diz que
as condições de armazenamento
são inadequadas. De fato, não há
coleção que resista em salas que
recebem raios solares incidindo
diretamente sobre livros.
A Secretaria da Cultura do DF
culpa a gestão anterior pelo problema -a fim de conter gastos, o
projeto original de Niemeyer
não teria sido respeitado. O governo criticado rebate, afirma
que seguiu as diretrizes originais, que entregou o prédio
pronto. Agora, a direção da biblioteca quer resolver a questão
cobrindo com insulfilme os
1.700 m2 de vidraças, para espanto e reprovação do escritório do
arquiteto.
Relevadas as trocas de acusações de praxe, o fato é que a Biblioteca Nacional de Brasília se
tornou um bibelô arquitetônico
de 10 mil m2, que gasta em energia elétrica R$ 125 mil mensais e
é protegido por dez seguranças
por turno. O espaço só não está
totalmente parado porque abriga um centro de inclusão digital
e uma sala de exposições.
Dada a subutilização, o edifício
se prova um exemplo tipicamente brasileiro, que se repete em
outras esferas públicas, de desperdício de recursos e erros de
planejamento. Tais trapalhadas
político-administrativas comprometeram um bom projeto,
que terá de ser desfigurado para
que possa atender aos cidadãos.
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