São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2007

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Inculta e bela

O DICIONÁRIO "Aurélio" define biblioteca como uma coleção de livros e documentos, organizada para estudo, leitura e consulta. Se tomassem como referência a Biblioteca Nacional de Brasília, os autores da publicação teriam de reescrever o verbete. Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, inaugurado duas vezes no ano passado, o belo edifício não tem livros em suas estantes -nele, ninguém estuda, lê nem consulta nada.
Construída por R$ 42 milhões pelo governo do Distrito Federal ao longo de dois mandatos, a biblioteca tem capacidade para receber 250 mil livros, mas está fechada, sem data para abertura, porque a administração diz que as condições de armazenamento são inadequadas. De fato, não há coleção que resista em salas que recebem raios solares incidindo diretamente sobre livros.
A Secretaria da Cultura do DF culpa a gestão anterior pelo problema -a fim de conter gastos, o projeto original de Niemeyer não teria sido respeitado. O governo criticado rebate, afirma que seguiu as diretrizes originais, que entregou o prédio pronto. Agora, a direção da biblioteca quer resolver a questão cobrindo com insulfilme os 1.700 m2 de vidraças, para espanto e reprovação do escritório do arquiteto.
Relevadas as trocas de acusações de praxe, o fato é que a Biblioteca Nacional de Brasília se tornou um bibelô arquitetônico de 10 mil m2, que gasta em energia elétrica R$ 125 mil mensais e é protegido por dez seguranças por turno. O espaço só não está totalmente parado porque abriga um centro de inclusão digital e uma sala de exposições.
Dada a subutilização, o edifício se prova um exemplo tipicamente brasileiro, que se repete em outras esferas públicas, de desperdício de recursos e erros de planejamento. Tais trapalhadas político-administrativas comprometeram um bom projeto, que terá de ser desfigurado para que possa atender aos cidadãos.


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