São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Os bancos e a crise

FABIO C. BARBOSA


No estado em que o sistema bancário se encontra, sólido e lucrativo, ele contribui para blindar nossa economia das turbulências internacionais


NINGUÉM PODE prever o futuro e dizer que a turbulência ou a crise nos mercados financeiros internacionais já vai passar ou vai durar, vai contaminar ou vai poupar o chamado "lado real" da economia, entre outras discussões.
Também não se pode prever se o Brasil escapará incólume. Não somos -se é que algum dia fomos- uma ilha de tranqüilidade num mar revolto.
Tanto do lado "real" quando do lado financeiro, o Brasil é, hoje, uma economia muito mais aberta, muito mais integrada -e isso é positivo.
É inegável a melhora do setor externo brasileiro. Em comparação com a última crise, a de 2002, as exportações saltaram de US$ 60 bilhões para US$ 157 bilhões, as importações, de US$ 47 bilhões para US$ 115 bilhões.
Como resultado, o superávit comercial mais do que triplicou, de US$ 13 bilhões para US$ 42 bilhões.
A dívida externa, espectro que ronda o Brasil desde sua independência, está para ser exorcizada. A dívida externa líquida, que hoje corresponde a metade das exportações, chegou a ser quatro vezes e meia maior do que o total das exportações. As reservas internacionais saltaram de US$ 38 bilhões em 2002 para US$ 170 bilhões.
"Pagam" 90% da dívida externa; cinco anos atrás, "pagavam" apenas 18%. Tudo indica, por ora, que a crise é eminentemente financeira. E os bancos centrais vêm aprendendo, desde o crash da Bolsa de Nova York de 1929, como lidar com problemas de confiança no mercado bancário e prevenir que contaminem o chamado "lado real" da economia pela quebra de um grande banco.
A quebra de um grande banco, às vezes, mesmo de um banco médio, pode desencadear uma reação em cadeia no sistema bancário, porque um banco paga outro banco com o que recebeu de um terceiro -e assim por diante. Se um elo falhar, a cadeia se rompe. E o dinheiro das empresas e das pessoas flui para dentro dos bancos e reflui para as empresas e pessoas, que estão pagando fornecedores e trabalhadores ou recebendo de clientes e patrões -via bancos.
Esse é o ponto: os bancos integram, sim, a economia real. A atividade bancária permeia a produção, a distribuição, o consumo. Por isso, uma crise bancária, uma corrida ou um pânico, como se dizia antigamente, é muito mais nefasta do que um problema numa empresa industrial ou comercial.
Daí os governos, em todos os países do mundo, se preocuparem em preservar sistemas bancários saudáveis, hígidos, rentáveis.
A sucessão de crises, choques e planos econômicos -cujas seqüelas perduram até hoje, no final da primeira década do século 21- afetou decisivamente os bancos no Brasil. Não foram poucas as instituições, até grandes e tradicionais, que sucumbiram às décadas de turbulência, nas quais o Brasil teve nada menos do que oito moedas diferentes.
Mas, diferentemente da maioria dos países da América Latina, o sistema bancário brasileiro foi decisivo para a preservação da moeda nacional -e também se preservou.
Não houve, aqui, a dolarização dos depósitos e empréstimos verificada em outros países. Além disso, em muitos países latino-americanos, os principais atores dos cenários bancários locais agora são instituições internacionais, que chegam a deter de 40% a até 90% dos ativos bancários em certas economias. Aqui, os bancos estrangeiros competem de igual para igual com os bancos nacionais, públicos e privados.
Mesmo nos momentos mais turbulentos, o sistema bancário brasileiro cumpriu com excelência suas três funções básicas: 1) rentabilizar a poupança que lhe é confiada pelos indivíduos e empresas; 2) financiar o consumo e o investimento; e 3) viabilizar pagamentos e recebimentos.
O Brasil tem bancos sólidos. Mais do que isso, como atesta o professor Antonio Delfim Netto em entrevista para o livro de 40 anos da Febraban, que será publicado em novembro: "Estamos no Estado da arte. Somos tão sofisticados quanto os Estados Unidos e infinitamente mais sofisticados que o resto do mundo; não tem comparação".
Essa higidez do sistema bancário brasileiro é uma vantagem considerável, pois aqui não há instituições com carteiras de crédito sobrealavancadas. Com certeza, ainda há vulnerabilidades na economia brasileira.
Mas, também com certeza, elas dificilmente serão encontradas no sistema bancário. No estado em que esse sistema se encontra, sólido e lucrativo, ele contribui para blindar nossa economia da turbulência dos mercados financeiros internacionais.

FABIO C. BARBOSA , 52, administrador de empresas, é presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e do Banco Real.


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