São Paulo, domingo, 09 de setembro de 2007

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O caminho do meio

JORGE WERTHEIN


A internet tem representado mais um desafio para a educação. De um lado, ela traz diversos benefícios.
De outro, problemas



A REDE mundial de computadores tem representado mais um desafio para a educação.
De um lado, a internet traz diversos benefícios, como a possibilidade de realizar pesquisas com maior agilidade, acessar dados à distância, intercambiar informações originárias de várias partes do mundo etc.
De outro, ela pode levar à distração dos estudos, facilitar o acesso a informações inúteis ou perniciosas e até servir de instrumento para a prática de atos violentos.
A imprensa tem noticiado com freqüência problemas relacionados ao emprego inadequado da internet por crianças, adolescentes e jovens.
O site de relacionamentos Orkut, por exemplo -que traz benefícios, como a aproximação entre os jovens e a criação de novas formas de socialização, novas práticas culturais e de linguagem entre eles-, também tem sido utilizado como espaço virtual para a organização de grupos que promovem ações violentas e para o agendamento dessas ações.
Meninos e meninas também empregam o ciberespaço para ridicularizar, humilhar, provocar colegas de escola ou supostos rivais.
Não faltam exemplos de situações em que os mundos real e virtual se interpenetram, estimulando o ócio improdutivo ou incitando a violência.
Sem contar os riscos que essas crianças, adolescentes e jovens correm, como pedofilia, trapaça, roubo, encontros enganosos, entre outros.
Cabe destacar também que a força da palavra escrita e das imagens é muito intensa, já que ambas podem ser lidas ou vistas muitas vezes e durante muito tempo.
Não se pode esquecer, igualmente, que os comportamentos encontrados na internet são só reflexos daqueles existentes na sociedade.
Pais e educadores estão, portanto, diante de um novo desafio: estimular seus filhos e alunos a participar ativamente da comunidade virtual, desfrutar de suas vantagens e, ao mesmo tempo, garantir que essa participação represente benefícios para a formação deles.
Em um extremo, estão controle, proibição, castigo. Em outro, permissividade. No meio, a liberdade responsável. Mas, como atingir esse ponto de equilíbrio? Como saber quando controlar, proibir, punir, permitir, estimular, compartilhar?
Antes, porém, de enfrentar o desafio de orientar corretamente crianças e adolescentes para o uso adequado da rede mundial de computadores, pais e educadores em geral precisam, eles próprios, conhecer a rede o mais amplamente possível.
Qual o potencial educativo da internet? Qual seu potencial destrutivo? Que tipos de entretenimento oferece? Que limitações ainda possui? Sem compreender o que é e como funciona o mundo virtual, pais e professores pouco podem fazer por seus filhos e alunos.
Talvez seja agora a grande oportunidade que pais e mestres tenham para fazer o dever de casa, seja nos espaços domésticos, quando ligam um computador, seja nos telecentros e "lan houses", também freqüentadas por seus filhos ou alunos.
O fundamental compartilhamento entre jovens e adultos do conteúdo veiculado na rede implica que os segundos sejam capazes de dominar a língua dos bits, bites, pixels etc., língua essa que os primeiros costumam empregar com total fluência.
Vale salientar que as brechas digitais entre pais e filhos, alunos e professores se assemelham bastante àquela outra brecha mais conhecida como "conflito de gerações".
A lacuna digital, portanto, pode ser tanto uma oportunidade de reduzir o velho conflito geracional quanto um risco de que esse conflito se agrave. Eis aí mais um desafio à educação contemporânea.
O debate está aberto, e as soluções começam a aparecer. Especialistas e não especialistas têm contribuições a dar. Tanto estudos quanto experiências podem ser úteis no esforço de garantir que as tecnologias de informação e comunicação sejam aliadas na formação moral e intelectual de crianças e jovens.
Afinal, ninguém deseja voltar ao tempo dos lampiões a gás porque a luz elétrica pode causar acidentes; tampouco retornar ao tempo dos veículos de tração animal porque os carros de hoje provocam mais acidentes de trânsito. É a consciência coletiva e individual que garantirá sempre o melhor uso que se pode fazer do avanço tecnológico.

JORGE WERTHEIN , 65, sociólogo argentino, mestre em comunicação e doutor em educação pela Universidade Stanford (EUA), é diretor-executivo da Ritla (Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana). Foi representante da Unesco no Brasil (1997 a 2005) e assessor especial do secretário-geral da OEI (Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura) de 2005 a 2006.
jwerthein@ritla.net


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