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Editoriais
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Mananciais sob risco
O DECRETO do governo paulista de "congelamento"
(limitação administrativa
provisória) de área equivalente a
200 parques Ibirapuera na região da Cantareira causa alguma
surpresa. Em parte, boa surpresa: após décadas de incúria e ocupação ilegal de mananciais metropolitanos, o poder público parece enfim se antecipar aos fatos
consumados. Congelar, contudo,
não equivale a preservar.
A medida prenuncia a criação
de dois parques estaduais nas
serras de Itaberaba e de Itapetinga. Ali estão alguns rios que alimentam o sistema Cantareira,
responsável por levar água a 8,8
milhões de moradores da Grande São Paulo. A área interditada
para estudos contém maciços
importantes de mata atlântica,
que protegem os mananciais e
servem de corredor para circulação de espécies ameaçadas.
Parques estaduais são unidades de proteção integral, que
comportam só pesquisas científicas, atividades de educação ambiental e turismo ecológico. Com
o congelamento por sete meses,
ficam impedidas atividades que
impliquem corte da vegetação,
reflorestamento e outros tipos
de degradação ambiental -mas
não a agropecuária e empreendimentos já em operação.
O decreto corre o risco de resultar inócuo, a exemplo dos parques "de papel", com limites claros nos mapas, mas sem fiscalização. Sobre alguns, terá o efeito
de inibir a ocupação predatória;
sobre outros, o de incitar ao desmatamento "preventivo", antes
de oficializadas as unidades de
conservação. Tudo dependerá
das ações de controle do Estado.
Os precedentes são desabonadores. Tanto as bacias da Cantareira quanto as da Guarapiranga
e da Billings sofrem contínuo assédio imobiliário. Restam hoje,
respectivamente, 21%, 37% e
54% de vegetação nativa nas três
áreas, o que colocará em risco o
fornecimento de água no futuro.
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