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ANTONIO DELFIM NETTO
Lucas e
a rainha
EM NOVEMBRO de 2008, a rainha Elizabeth da Inglaterra
visitou a London School of
Economics. Surpreendeu seus professores reunidos com uma pergunta tão inconveniente quanto
pertinente: como foi possível que,
em mais de um século de dedicação
ao estudo e à pesquisa do sistema
econômico, a tragédia que tomou
conta da economia inglesa não tivesse sido "prevista" e, tanto quanto podem os homens, evitada?
Todos sabemos que a London
School of Economics nasceu "heterodoxa", em 1895, pelo acidente de
uma herança (da ordem de
10.000) deixada por um certo senhor Henry Hutchinson. Este fora
"convertido" à doutrina da "Fabian
Society" criada em 1884 (basicamente por Sidney Webb e George
Bernard Shaw), que seria possível
construir (pacificamente!) "uma
sociedade eticamente superior à
prevalente".
Sidney Webb -o executor da herança- nunca foi um marxista
(Marx havia morrido em 1883):
sempre recusou, intuitivamente, o
seu "determinismo histórico".
Acreditava, entretanto, na possibilidade de que a análise científica
da realidade concreta inglesa poderia sugerir uma sociedade moralmente mais decente. O ar "científico" do marxismo parecia óbvio. E
os argumentos realmente antológicos do grande cientista R.B. Haldene (recolhidos depois num artigo que pode ser lido até hoje como
"vacina" para prevenir a infecção
do "socialismo científico") convenceram Webb (e seu grupo) de que o
caminho era mesmo a análise científica da realidade.
Na sua origem, ela negava o estudo da economia como parte das
artes (o que faziam os "economistas") e tentava levá-lo para o campo
das ciências (matemática, física e
biologia). Isso encontrou séria
oposição de Cambridge e Oxford
(inclusive do grande Alfred
Marshall).
A tristeza é que mesmo esta semente (que a rigor frutificou muito
pouco) foi incapaz de responder à
crueza da pergunta da rainha! As
respostas foram (como sempre)
justificativas evasivas: a geologia
também é incapaz de "prever" (e
logo de "prevenir") os terremotos!
A pequena diferença é que não é a
ação dos geólogos que produz as
flutuações das placas tectônicas!
Mas talvez a maior desilusão da
profissão tenha sido a resposta do
que se supõe ser a "Teoria Econômica Moderna". A pobreza, a falácia, o escapismo e o cinismo da resposta de Robert Lucas (o Nobel de
1995) em "The Economist" (6/8/
2009) sobre o assunto.
O seu artigo ("Em Defesa da
Ciência Trágica") foi o enterro de
toda a mistificação da pseudociência que tentou substituir a humilde
e útil economia política que estava
na origem da London School...
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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