São Paulo, quinta-feira, 09 de setembro de 2010

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CLÓVIS ROSSI

Gênese da delinquência

SÃO PAULO - Vinicius Torres Freire, que, como Gardel, "cada día canta mejor", disse em sua coluna de ontem em "Mercado" quase tudo o que eu gostaria de dizer sobre o mais recente escândalo da escandalosa política tapuia.
O foco, a meu ver, foi a frase "Lula e o lulo-petismo (...) apadrinharam malfeitores". Bingo.
Faltou apenas explicitar a gênese do apadrinhamento. Está na frase de Lula sobre o mensalão, na famosa entrevista dada em Paris: "O PT fez o que todo mundo faz".
O que todo mundo faz, segundo Lula, seria caixa dois. Circunscrever o mensalão a caixa dois não teve aval do então procurador-geral, que acusou um lote de petistas graúdos de, entre outros crimes, "formação de quadrilha". O STF acolheu a argumentação do procurador.
Muito bem. Mesmo que tivesse sido apenas caixa dois, resta o fato de que "caixa dois é coisa de bandido", frase de ninguém menos que Márcio Thomaz Bastos, então ministro da Justiça.
Não há, até agora, a bala de prata que prove que o PT, como instituição, e a campanha Dilma estejam envolvidos na quebra de sigilo de tucanos. Mas a frase de Lula, aceitando que o PT fez o que seu ministro disse ser "coisa de bandido", equivale a apadrinhar malfeitores, como escreveu Vinicius.
Apadrinhamento que o ministro Guido Mantega trouxe para o tempo presente, ao dizer que "vazamentos sempre ocorrem". Todo o mundo sabe que ocorrem, mas, ao conformar-se com a delinquência, o ministro do PT está também apadrinhando-a por omissão.
Nada a ver com o discurso de posse (a primeira) de Luiz Inácio Lula da Silva, que dizia: "O combate à corrupção e a defesa da ética no trato da coisa pública serão objetivos centrais e permanentes de meu governo. É preciso enfrentar (...) e derrotar a verdadeira cultura da impunidade que prevalece em certos setores da vida brasileira".

crossi@uol.com.br


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