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AMBIGUIDADE NO BNDES
O BNDES é o maior investidor público brasileiro, mas suas prioridades
não passam devidamente pelo crivo
da sociedade, que provê seus fundos.
O mais novo ocupante da presidência do megabanco estatal, o economista Andrea Calabi, dá sinais de
querer imprimir sua própria marca à
instituição. Tem defendido uma
atuação mais agressiva do banco no
financiamento a grupos estrangeiros, por exemplo, com a ressalva de
que o apoio é justificável sempre que
sobre a mesa se colocarem projetos
de investimento de interesse do país.
Ora, há inúmeros critérios, quase
nenhum deles trivial, para julgar o
que é do interesse do país. Referir-se
a essa idéia, em especial para justificar o apoio a grupos estrangeiros, é
um arriscado exercício de retórica.
No lugar de referências genéricas
ao interesse nacional, seria mais adequado apresentar cálculos e critérios
mais precisos. Quais as contrapartidas da empresa? Que benefícios tecnológicos trará ao país? Qual o custo
dos empregos gerados?
Agora estaria em causa uma nova
missão: financiar a reestruturação industrial, por meio de fusões.
Como a atuação do BNDES estará
articulada à promoção da concorrência, regulada pelo Cade? Quais os critérios para fomentar fusões entre empresas de grande porte que teriam de
todo modo acesso a fontes convencionais de financiamento? Que modelos de encadeamento entre empresas grandes e outras de menor porte
o BNDES pretende estimular?
Tais questões exigem definições
muito mais concretas que a mera referência ao interesse nacional.
O BNDES, como outras poderosas
agências federais, cresceu e se estabeleceu ao amparo de ambiguidades e
tráfico de influências. Enquanto não
houver políticas transparentes e critérios definidos democraticamente, a
fila de empresas no BNDES lembrará
sempre os piores momentos da tecnocracia, cujos erros em matéria de
projetos de investimento e financiamento estão sendo pagos até hoje pelos contribuintes brasileiros.
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