São Paulo, Quinta-feira, 09 de Setembro de 1999
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AMBIGUIDADE NO BNDES

O BNDES é o maior investidor público brasileiro, mas suas prioridades não passam devidamente pelo crivo da sociedade, que provê seus fundos.
O mais novo ocupante da presidência do megabanco estatal, o economista Andrea Calabi, dá sinais de querer imprimir sua própria marca à instituição. Tem defendido uma atuação mais agressiva do banco no financiamento a grupos estrangeiros, por exemplo, com a ressalva de que o apoio é justificável sempre que sobre a mesa se colocarem projetos de investimento de interesse do país.
Ora, há inúmeros critérios, quase nenhum deles trivial, para julgar o que é do interesse do país. Referir-se a essa idéia, em especial para justificar o apoio a grupos estrangeiros, é um arriscado exercício de retórica.
No lugar de referências genéricas ao interesse nacional, seria mais adequado apresentar cálculos e critérios mais precisos. Quais as contrapartidas da empresa? Que benefícios tecnológicos trará ao país? Qual o custo dos empregos gerados?
Agora estaria em causa uma nova missão: financiar a reestruturação industrial, por meio de fusões.
Como a atuação do BNDES estará articulada à promoção da concorrência, regulada pelo Cade? Quais os critérios para fomentar fusões entre empresas de grande porte que teriam de todo modo acesso a fontes convencionais de financiamento? Que modelos de encadeamento entre empresas grandes e outras de menor porte o BNDES pretende estimular?
Tais questões exigem definições muito mais concretas que a mera referência ao interesse nacional.
O BNDES, como outras poderosas agências federais, cresceu e se estabeleceu ao amparo de ambiguidades e tráfico de influências. Enquanto não houver políticas transparentes e critérios definidos democraticamente, a fila de empresas no BNDES lembrará sempre os piores momentos da tecnocracia, cujos erros em matéria de projetos de investimento e financiamento estão sendo pagos até hoje pelos contribuintes brasileiros.


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