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A foto
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Quem viu a foto de Pedro
Malan na primeira página de ontem
da Folha e depois assistiu a fala de
Fernando Henrique Cardoso ao ministério não teve dúvidas: o governo
anda exausto e envelhecido.
Antes, eram só as bolsas sob os olhos.
Agora, o elegante Malan parece tenso,
descabelado, cheio de tiques, com
uma expressão estressada, raivosa.
Antes, FHC tinha aquele sorriso de
quem está de bem com a vida e sabe
das coisas. Agora, a boca pesa, o cenho
é franzido, o olhar, irrequieto.
Chegar ao poder deve ser uma delícia. Mantê-lo é que são elas. Por dois
mandatos, então, nem se fala.
Ao longo desses quatro anos e meio,
FHC não perdeu apenas cabelos pretos e bom humor. Perdeu também os
colaboradores mais diretos, os amigos
mais fiéis, aqueles que contavam muito antes da Presidência.
Foram-se embora Sérgio Motta e
Luís Eduardo Magalhães, que morreram; Eduardo Jorge, os irmãos Mendonça de Barros, André Lara Rezende; ainda há pouco Celso Lafer e Bresser Pereira; agora Clóvis Carvalho.
Restam poucos. No Planalto, a assessora de imprensa, Ana Tavares. Fora
dele, José Serra, Paulo Renato Souza,
José Gregori.
Também ao longo desses quatro
anos, Malan foi perdendo amigos, colaboradores, subordinados, está cada
vez mais isolado, mais sozinho. O
PSDB, que se dizia seu partido, caiu
fora há tempos. O PFL, que o adotou,
também já não faz lá muito esforço.
Nunca se deve esquecer de que Malan tem revelado um gosto surpreendente pelo poder, lutado com unhas e
dentes pelo cargo, enfrentado tudo e
todos, entrado no jogo político como
poucos supunham que fosse capaz.
A sensação é que ele resiste, resiste,
resiste, aos trancos políticos e às críticas à sua linha econômica. Mas que, a
qualquer hora, pode ser derrotado pela pura e simples exaustão. Algo quase pessoal.
Além do poderoso, do ministro, do
ser político, existe algo mais: uma pessoa. É essa pessoa, retratada por Lula
Marques, quem parece cada vez mais
próxima de jogar a toalha.
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