|
Próximo Texto | Índice
O REVÉS DOS CACIQUES
As eleições de domingo significaram mais um passo no processo de amadurecimento do eleitorado brasileiro e das instituições democráticas de modo geral. Foi notório o repúdio a candidatos que representam um modo antigo de fazer política, resumido no termo "caciquismo". Nomes como os do ex-presidente Fernando Collor de Mello, dos
ex-governadores Paulo Maluf, Orestes Quércia, Leonel Brizola e Newton
Cardoso e do ex-prefeito paulistano
Celso Pitta foram rejeitados pelos
eleitores e não terão mandato eletivo
pelo menos nos próximos dois anos.
O estilo mais tradicional de fazer
política geralmente precisa contar
com fatores como: uso da máquina
pública em proveito próprio e contra
adversários; certo controle das informações; e alguma benevolência, para dizer o menos, das autoridades
fiscalizadoras do exercício do poder.
Essas facilidades do passado vêm
sendo progressivamente desfeitas
conforme avança a democratização.
Governantes já não podem dispor
dos dinheiros públicos como antes,
correm o risco de prisão insistindo
na farra fiscal; a evolução da imprensa rumo a um jornalismo mais independente também é um fenômeno a
ressaltar; e instituições como o Ministério Público e a própria Justiça
vêm exercendo a sua autonomia cada
vez mais plenamente.
Alguns acontecimentos no Senado, em 2000 e 2001, ilustram essa
evolução. Numa instituição que se
considerava imune às investigações
internas, senadores que se julgavam
desobrigados de prestar contas foram levados de roldão num processo
que exigia depuração. Luiz Estevão
foi cassado e não pôde concorrer no
domingo; José Roberto Arruda e Jader Barbalho voltaram ao Congresso, mas como deputados. Antonio
Carlos Magalhães volta ao Senado,
mas dificilmente retomará grande
influência na esfera federal.
Essas figuras voltam politicamente
menores, fenômeno que também
ocorreu, por exemplo, com o ex-governador paulista Fleury Filho, que,
desde que deixou o governo, só conseguiu eleger-se deputado federal.
É evidente que todo esse processo
deve ser visto com algumas ressalvas. Em política os fenômenos são
quase sempre sinuosos, apresentando idas e vindas. Para um cacique
que sai de cena pode haver um outro,
ainda em gestação, que entra. Mas o
que é possível dizer é que o ambiente
da política brasileira se torna mais
avesso a tal perfil de mandatário e
que esse é um dos bônus da vivência
democrática.
Próximo Texto: Editoriais: GUARDAR RESERVAS Índice
|