São Paulo, terça-feira, 09 de outubro de 2007

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Concentrado bancário

Maior negócio bancário da história vai levar a mais concentração no Brasil; dúvida é se clientes serão beneficiados

A MAIOR aquisição bancária da história mundial -a compra, por US$ 100 bilhões, do ABN Amro Bank pelo consórcio formado por Royal Bank of Scotland, Santander e Fortis- terá grande repercussão no Brasil.
A instituição resultante da incorporação do Real/ABN pelo Santander deterá ativos de R$ 278 bilhões e assumirá o posto de terceira maior do país. A presença de um banco estrangeiro entre os maiores do Brasil também é uma novidade.
A operação, ademais, impulsiona a estratégia da casa bancária espanhola na América Latina, onde deterá 15% do mercado. O negócio bilionário tende a incentivar outras grandes instituições, domésticas e estrangeiras, a sair às compras como estratégia para defender-se. Ou seja: todos os vetores estão direcionados para mais concentração bancária.
No que tange aos efeitos potenciais para o consumidor, a operação acontece num quadro de mudanças no modelo de negócios no Brasil. Os bancos ampliam agressivamente os empréstimos -sobretudo para pessoas físicas- e reduzem as transações com dívida pública.
O volume de crédito se expandiu, as taxas de juros médias caíram e os prazos foram alongados. Em agosto de 2006, o estoque de crédito alcançou 33,1% do PIB, representando um aumento de 10 pontos percentuais em relação a agosto de 2003. As taxas de juros médias caíram para 35,75% ao ano, uma queda de 17 pontos percentuais no mesmo período. Ainda situam-se, contudo, em patamares bastante elevados em comparação a outros países.
O avanço do Santander sobre os outros grandes bancos brasileiros renova as expectativas de que seja acirrada a competição entre eles, beneficiando diretamente os clientes. Mas é preciso não perder de vista que o aumento da concentração no mercado traz consigo também o risco da oligopolização. Os dez maiores bancos deterão 72% dos ativos -contra 70% hoje.
Bancos cada vez maiores e mais complexos vão demandar aperfeiçoamento nas técnicas de supervisão por parte das autoridades brasileiras. Um teste iminente será a regulamentação das tarifas, que tiraram dos clientes e levaram para os bancos R$ 23,3 bilhões no primeiro semestre, tornando-se uma das maiores fontes de receita dessas empresas financeiras. As tarifas cobrem 123% das despesas com a folha de pagamento dos bancos. No início do Plano Real, cobriam 40%.


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