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MARCOS NOBRE
Popularidade inútil
NÃO DEVE haver registro na
história de um chefe de governo que desencadeie sua
sucessão mal iniciado o mandato.
Tudo o que um governo tenta evitar é essa antecipação da discussão
sucessória. Mas o Brasil sempre
surpreende.
Em entrevista coletiva, em maio,
Lula disse que quer estar "afiado"
para 2010 e que a base de apoio deveria ter um candidato "tirado em
consenso". Contrariado pela decisão do PT por uma candidatura
própria no início de setembro, reafirmou sua posição em jantar com
deputados na semana passada.
Mais que isso, Lula teria manifestado nessa ocasião o desejo de se licenciar para fazer a campanha de
seu sucessor.
É bem esquisito, mas faz sentido.
Lula está acuado. É um presidente
com alta popularidade que lidera
um governo sem oposição nem base de apoio consolidada.
As forças de oposição se mostraram incapazes de interferir de maneira significativa no processo político. Por causa da disputa interna
pela indicação no PSDB, os principais candidatos oposicionistas, José Serra e Aécio Neves, não têm interesse em antecipar a discussão de
2010. Sem contar que dependem
da liberação de verbas do governo
federal para realizar governos que
os credenciem à disputa pela Presidência. Não têm interesse em confrontar Lula neste momento.
O cenário partidário ficou extremamente instável depois da recente decisão sobre a fidelidade partidária. Da maneira como se deu, o
súbito acesso de ativismo judicial
do STF só fez jogar mais lenha na
confusão atual.
A perversa combinação de escândalos em série e permanente
chantagem dos integrantes da base
de apoio é uma ameaça real aos
principais projetos de Lula. A começar pela aprovação da CPMF e
da DRU, sem as quais o segundo
mandato será inexistente.
Antecipar 2010 foi a maneira que
Lula encontrou para jogar sua popularidade contra a instabilidade e
a extorsão a que está submetido. O
problema é que foi ele mesmo que
se colocou na posição de ser chantageado, pela maneira como montou seu governo e sua base de
apoio.
O ponto fraco dos dois mandatos
permanece o da ausência de uma
articulação política eficiente. José
Dirceu quase pôs a pique o primeiro governo. No segundo, Lula foi
obrigado a assumir a tarefa. Mostrou que não tem talento para jogar
nessa posição.
É uma situação tão inédita quanto preocupante. Lula lançou mão
de sua popularidade como último
recurso para tentar sair do impasse
em que se encontra.
Mas colocar popularidade em jogo nessas circunstâncias e dessa
maneira não é apenas um risco. É
também inócuo. O impasse persiste.
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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