São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

Próximo Texto | Índice

METAS NA TRANSIÇÃO

Mudanças de hábito entre os consumidores, debates sobre indexação de contratos e salários e dúvidas sobre as metas inflacionárias parecem indicar que começa uma nova fase na economia brasileira. O mínimo que se pode dizer é que se iniciou uma fase de transição.
No cenário mais otimista, a alta recente da inflação não passa de uma bolha provocada pela especulação cambial e pela ansiedade eleitoral. Haveria sinais de moderação, baixa no risco e recuo do dólar. Aos poucos, esse cenário se consolidaria.
O ajuste recessivo promoveria os saldos no comércio exterior e a redução do desequilíbrio externo. O câmbio recuaria, assim como a inflação, abrindo espaço para o crescimento com estabilidade de preços.
No cenário mais pessimista, embora hoje menos provável, o governo Lula seguiria a receita do governo FHC. Manteria os juros elevados e prosseguiria o arrocho fiscal, perseverando numa trajetória recessiva. Embora pareça austera e responsável, essa orientação agravaria o desequilíbrio nas contas públicas e deprimiria o desempenho das empresas.
Mas dificilmente restauraria o crédito externo e, a exemplo da Argentina, o suposto ajuste ortodoxo apenas precipitaria o país numa estagnação cujo limite é a insolvência, sem estabilização do câmbio ou da inflação. Como na crise dos anos 80, o resultado mais provável seria a estagflação (estagnação com inflação).
Talvez, porém, a realidade se revele um meio-termo entre o cenário pessimista e o otimista. Sem estabilização nem colapso financeiro com estagflação, as metas inflacionárias poderiam ser menos ambiciosas e o regime de metas, mais flexível.
Não se trata de acreditar que são baixos os riscos de "um pouco" mais de inflação. No entanto, é preciso reconhecer que a obsessão antiinflacionária não só está longe de garantir sucesso para o regime de metas como fragiliza a economia e o Estado. As metas fazem parte da transição. O ideal é alcançar, o quanto antes, outra política econômica mais propícia ao desenvolvimento do país.


Próximo Texto: Editoriais: ATENÇÃO ÀS INVASÕES
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.