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ATENÇÃO ÀS INVASÕES
Surgem rumores de que, no
contexto da trégua "branca"
concedida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra ao futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o MST vá solicitar do PT que dê
cabo de um dispositivo legal que vem
inibindo as invasões de terra. Trata-se da medida provisória que impede,
por um prazo de dois anos, que uma
terra que tenha sido invadida seja desapropriada para fins de reforma
agrária. Esse talvez seja o primeiro
grande teste para saber de que lado
estará o governo Lula no que tange à
defesa da legalidade.
Não há dúvidas de que a reforma
agrária, processo que avançou muito
sob FHC, é uma política social relevante para o Brasil. Na pior das hipóteses, faz-se um programa de renda
mínima associado à terra. Na melhor
e mais desejável delas, procura-se integrar um contingente de novos produtores à agricultura brasileira. Em
ambas, permitem-se melhores condições de cidadania a uma fatia tradicionalmente excluída dos benefícios
do progresso e da urbanização.
Mas o que se exige é que o processo
de reforma agrária aconteça com respeito rigoroso ao ordenamento jurídico. Nesse figurino não cabem invasões de propriedade e de próprios do
poder público, expedientes criminosos aos quais o MST não se cansou
de recorrer nos últimos anos, muitas
vezes sob o olhar conivente daqueles
que tinham por obrigação zelar pelo
devido cumprimento das leis.
Desde que o governo editou a MP
em questão, as invasões de terras diminuíram. Até os líderes do movimento que só utilizam a bandeira da
reforma agrária como pretexto
-pois o que pleiteiam mesmo é a
derrubada do "Estado burguês"- se
viram compelidos a recuar para não
perder apoio na base do MST e na
opinião pública de modo geral.
No mandato presidencial consta a
obrigação de zelar pelo Estado de Direito. Para que não perca legitimidade, Lula terá de encarar invasões de
propriedades agrárias como atos criminosos. Nesse sentido, abolir a MP
que inteligentemente previne tais
práticas seria um péssimo sinal.
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