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TENDÊNCIAS/DEBATES
A venda das ações do Banco do Brasil deveria ter sido postergada?
NÃO
Um trabalho sério
EDUARDO GENTIL
Vamos desdobrar a questão em
duas partes: Por que fazer a venda
das ações? E por que fazê-la agora?
Pelo visto no noticiário recente, creio
que está se formando um consenso forte sobre o mérito da venda de ações do
Banco do Brasil, que representa a etapa
conclusiva de um processo de fortalecimento da instituição que vem sendo
implementado pelo banco há pelo menos três anos. Mas vale a pena recapitular as razões ou justificativas principais.
O bloco de ações ordinárias colocado
à venda representa 17,8% do capital do
BB -7% das ações já estão no mercado
e cerca de 15% ficarão com o BNDES e a
Previ. A União, portanto, permanecerá
com mais de 60% do capital do banco e
continuará com o controle dele. A operação em andamento permitirá que o
BB passe a ter uma base muito maior de
acionistas e liquidez garantida para as
ações. A consequência natural deverá
ser uma valorização substancial da posição de controle detida pela União.
A colocação dessas ações no mercado
permitirá que o BB ingresse no Novo
Mercado da Bolsa de Valores de São
Paulo. Será a primeira grande empresa
de atuação nacional a ingressar neste
segmento da Bovespa, com importância emblemática para o fortalecimento
do nosso mercado de capitais. Nos últimos anos, o mercado de ações tem encolhido no Brasil, em parte devido ao
número limitado de bons papéis de empresas com transparência, boa governança e proteção aos direitos dos minoritários. A entrada do BB nesse segmento servirá de exemplo e estímulo a outras empresas, contribuindo para uma
recuperação do mercado de capitais.
O impacto no próprio banco também
será muito positivo. Quando falei com
um diretor do BB sobre a operação, ele
comentou com muito entusiasmo: "Este é o evento mais importante na história do banco!". Quem tem acompanhado o Banco do Brasil mais de perto sabe
que sua gestão tem trabalhado incansavelmente nos últimos anos para chegar
a este momento. Com essa venda de
ações pulverizada, o BB terá milhares de
acionistas no Brasil e será acompanhado de perto por eles e pelos principais
analistas de ações aqui e no exterior.
O compromisso do BB de manter
uma gestão profissionalizada, a transparência e a boa performance tenderá a
fortalecê-lo como a maior instituição financeira do país. Um banco como o
Banco do Brasil precisa zelar por sua
saúde financeira, perspectivas de crescimento e estratégia. A valorização de
suas ações permite maior competitividade e redução de custos de capital. Para isso, gestão e governança são fundamentais, além de regras de supervisão
bancária adequadas e ambiente macroeconômico favorável.
Vamos à segunda parte.
Todo processo de venda de um ativo
importante do setor público deve equilibrar vários fatores, com estímulo ao
mercado de capitais, valor ou preço do
ativo, condições do mercado e nível de
preparação para implementar a venda.
No que diz respeito ao valor do ativo,
embora o BNDES esteja impedido de
comentar esta questão, vale dizer que os
coordenadores contratados para a oferta fizeram um trabalho abrangente de
análise, que abordou várias metodologias e permitiu aos vendedores decidir
pelo prosseguimento da operação.
Além disso, relatórios recentes de
analistas do mercado fazem várias
abordagens sobre a questão de valor, incluindo performance recente, comparação com indicadores de performance e
valor de outros bancos, além de potencial de rentabilidade futura. Nos últimos
12 meses, enquanto o Ibovespa desvalorizou-se em 22%, as ações do Banco do
Brasil apresentaram valorização de
23%, em parte em razão da expectativa
da adesão do banco ao Novo Mercado.
De maneira geral, nas últimas semanas
houve sinais de melhoria na tendência
dos mercados acionários no Brasil.
Finalmente, a preparação para um
lançamento de ações desse porte é complexa, demorada e tem gastos relevantes
-entre aprovações governamentais,
contratação de coordenadores, aprovação da CVM, preparação da campanha
de marketing e outras tarefas. Todo esse
processo foi iniciado em abril deste ano,
quando a decisão de levar o BB ao Novo
Mercado e vender as ações foi divulgada. Chegamos até aqui, após mais de oito meses de trabalho, com sucesso.
Portanto, considerando todos esses
fatores, creio que é oportuno, sim, levar
o processo adiante neste momento, dado a melhoria da percepção de mercado. Tudo indica que o lançamento poderá ter grande êxito. Mas vale lembrar
que os vendedores sempre se reservam
o direito de reavaliar o fechamento final
da operação, previsto para o fim deste
mês, dependendo da reação do mercado e da demanda (volume e preço).
Vivemos um processo de transição
inédito no país, com uma interação de
mútuo respeito entre o governo atual,
que tem responsabilidade de gestão até
o final do ano, e a equipe de transição do
novo governo. Faz parte desse processo
a análise cuidadosa dos projetos em andamento, considerando todos os seus
aspectos relevantes. Faz parte também a
cautela necessária para que não sejam
prejudicados ou adiados projetos importantes para o país, como este do
Banco do Brasil.
Eduardo Gentil, 47, economista, é diretor de
Produtos Estruturados do BNDES.
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