O RECADO das urnas não poderia ser mais claro: o eleitor americano está muito insatisfeito com o prolongado desastre produzido pelo governo Bush no Iraque e o festival de escândalos protagonizado por legisladores republicanos.
A gestão Bush, que chegou a experimentar taxas de aprovação próximas a 90% após o 11 de Setembro, conta hoje com o endosso de pouco mais de 35%, principalmente por causa do desgaste no Oriente Médio. Como conseqüência direta e imediata da derrota nas urnas, ontem mesmo Donald Rumsfeld, o "arquiteto" do atoleiro iraquiano, foi demitido da Defesa.
As quedas de baluartes republicanos envolvidos em corrupção e até num escândalo sexual terminaram de fazer o estrago.
O resultado das "mid-term elections", espécie de referendo sobre a administração, é muito mais uma derrota republicana que uma vitória democrata. O fato de o sistema americano ser bipartidário transforma a oposição democrata em única beneficiária da ruína situacionista.
Após 12 anos, os democratas reconquistaram o controle da Câmara e podem também retomar o do Senado. Resultados definitivos, contudo, ainda dependem de recontagens manuais na Virgínia e possivelmente também em Montana, onde as disputas foram apertadíssimas.
Se os democratas de fato conseguirem o controle das duas casas, poderão criar grandes dificuldades para Bush, em especial no comércio externo. Se ficarem apenas com a Câmara, seu poder de fogo será mais limitado.
A importância maior da eleição de terça está no fato de ter sido uma prévia do pleito de 2008 para a Casa Branca. É em relação a esta disputa que os partidos deverão agora posicionar-se.
Nos próximos dois anos, os democratas tentarão capitalizar ainda mais a rejeição a Bush. Os republicanos vão recolher os cacos da derrota para tentar mais um mandato. Quem for mais convincente ao apresentar um plano para deixar o Iraque provavelmente levará vantagem.


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