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Tudo incerto
Vitória republicana questiona políticas anticrise adotadas por Obama e torna mais nebuloso o destino das finanças internacionais
O incisivo voto de desconfiança
no governo de Barack Obama e em
seu Partido Democrata afeta o clima ideológico mundial e pode ter
influência decisiva no rumo da
economia norte-americana e, por
conseguinte, internacional.
Obama e os democratas foram
por ora relegados ao canto dos governos e partidos de "centro-esquerda" derrotados em quase toda parte do Ocidente rico.
A maior crise das economias de
mercado em 80 anos por ora redundou em vitórias políticas de
partidos conservadores, em renovadas críticas às despesas sociais,
na reemergência da xenofobia e
em discretos protecionismos. Nada menos parecido com o novo
mundo de Obama ou dos animados anseios dos críticos do "neoliberalismo" em 2008.
De interesse mais imediato para
a economia, a vitória do Partido
Republicano no mínimo suspende decisões emergenciais de uma
política econômica já hesitante e
de sucesso ainda incerto.
De acordo com os críticos mais à
"esquerda", Obama foi tímido no
estímulo à economia por meio de
gastos do governo, além de não ter
desenvolvido um programa de incentivo a investimentos em novos
setores, como engenharia ambiental, que poderia favorecer
uma retomada econômica sem recursos a "bolhas" -uma constante americana desde 1990.
À "direita", o teor dos reparos é
o mesmo, mas com sinal trocado.
Tal crítica foi vitoriosa nas urnas.
Além de refutar todo o programa
do presidente americano, os republicanos atacam duramente a intervenção do BC americano.
Do colapso de 2008 até junho
de 2011, o Fed terá injetado ao menos cerca de US$ 2,3 trilhões na
economia, seja por meio de financiamento direto e indireto a instituições financeiras privadas ou
semiprivadas, seja por meio da
compra de dívida do governo em
poder do mercado. O objetivo dessa abertura inédita de comportas
monetárias é reduzir ainda mais
as taxas de juros.
Os melhores pensadores da
economia americana têm visões
opostas sobre a conveniência da
diretriz heterodoxa do Fed e da
opção por gastos públicos de Obama, políticas que no entanto evitaram uma depressão. Se tal resultado é duradouro ou terá efeitos colaterais daninhos é também motivo de polêmica acerba.
Notório, porém, é o fato de que a
combinação de excesso de dólares
com baixo crescimento do PIB
provoca a desvalorização da moeda americana e a consequente valorização da maioria das moedas
do mundo -real inclusive.
Se antes da eleição já era duvidosa a intenção de Obama de criar
novos incentivos fiscais, sua derrota deve sepultá-la. A tarefa
maior de reavivar consumo e investimento recairá sobre o Fed.
Aventa-se a hipótese de que os
republicanos tentem contrair despesas e até pressionar o Fed a moderar seus planos expansionistas.
Na visão econômica padrão, o radicalismo republicano poderia reconduzir os EUA à recessão.
Passada a euforia da vitória, o
cálculo político mais racional dos
republicanos deve levar em conta
que medidas radicais por eles propostas poderiam atrair a responsabilidade por uma nova crise, à
beira do pleito presidencial, em
2012. Certo é que a vitória republicana tornou ainda mais nebuloso
o destino das finanças da maior
economia do mundo e, assim, da
economia mundial e dos conflitos
políticos que ora a envolvem.
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