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CARLOS HEITOR CONY
O novo livro de Scliar
RIO DE JANEIRO - Leitor compulsivo até os 40 anos, lendo tudo o que
podia e não podia, comecei a esmorecer quando meti na cabeça que eu
próprio podia escrever livros. Nos
últimos tempos, prefiro reler -daí
que não estou atualizado com a literatura que agora se fabrica. Mesmo
assim, tive um momento de verdade ao ler o último romance de
Moacyr Scliar, "Eu Vos Abraço,
Milhões".
Explicando o título: é um verso
de Schiller, extraído de sua "Ode à
Alegria", que inspirou Beethoven a
compor a "Nona Sinfonia". Título
que poderia ser alternativo para o
livro de Scliar seria "Que fazer?", citado no texto diversas vezes, sempre no original (Choto delat?).
Na passagem dos anos 20 para os
30, temos a história de Valdo, um
menino gaúcho influenciado por
Geninho, rapaz da mesma região,
que o introduz na luta de classes e
no comunismo romântico daquele
tempo. Geninho morre, mas pede a
Valdo que continue na luta, que vá
procurar Astrojildo Pereira, um dos
fundadores do PCB e que mora no
Rio de Janeiro.
Não se trata de um romance de
formação: Scliar nasceu bem depois desse tempo. Mas seu livro é a
aventura de todos os que foram
chamados para a luta social, independentemente até dos partidos
afins. Valdo vem para o Rio num
trem de carga, procura desesperadamente por Astrojildo como os cavaleiros antigos procuravam o Santo Graal. Moço ainda, Astrojildo
beijara as mãos de Machado de Assis no leito de morte. Mas está em
Moscou. Quando retorna, cai em
desgraça dentro do partido que
fundara.
Valdo queima um exemplar de
"Dom Casmurro", um romance
burguês para burgueses. Desorientado, aceita trabalhar na construção do Cristo Redentor. É encarregado de fazer explodir a monumental estátua. Não conto o resto. Este
resto marcará para sempre a literatura brasileira.
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