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São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

A chave do mistério

RIO DE JANEIRO - Não merecia, mas o Rio deu azar com esse recente crime na Barra da Tijuca, quando foi assassinado um casal norte-americano, ele um alto executivo de uma empresa mundial.
Até o momento, os motivos e o autor ou os autores do crime estão sendo procurados, mas o estrago feito na imagem do Rio desta vez foi injusto. Fica mesmo por conta do azar.
O episódio nada tem a ver com a violência urbana, da qual a cidade é vítima, cúmplice e testemunha. Foi um caso particular, sobre o qual começam as hipóteses mais contraditórias, envolvendo desde a filha mais velha do casal, de 13 anos, até complicada operação empresarial, com origem e destino na rede de corrupção estatal, uma vez que o executivo da Shell trabalhava num projeto de canalização de gás que movimentaria milhões de dólares entre firmas particulares (nacionais e estrangeiras) e o próprio governo brasileiro.
O disse-não-disse começa a correr solto. A polícia carioca descartou preliminarmente duas hipóteses: a do latrocínio e a da motivação econômica relacionada com a atividade profissional do executivo norte-americano.
A exclusão da primeira hipótese, a do latrocínio, parece óbvia, uma vez que nada foi roubado da casa ou de seus moradores, nem justificaria a presença de agentes do FBI destacados para acompanhar o caso como observadores. Não sendo a motivação de ordem passional, sexual, não havendo suspeitas de grave desequilíbrio mental ou econômico na família, sobra largo espaço para suposições as mais variadas.
Da vítima principal -o executivo da Shell- dependeria o projeto final de uma obra supermilionária, que criaria comissões legais (e ilegais), que poderia enriquecer pessoas ou empresas interessadas no projeto. Sabemos como são negociados os megainvestimentos.
A reação da vítima em face da corrupção, dificultando-a ou impedindo-a, pode ser a chave do mistério.


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