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CARLOS HEITOR CONY
A chave do mistério
RIO DE JANEIRO - Não merecia, mas o Rio deu azar com esse recente crime
na Barra da Tijuca, quando foi assassinado um casal norte-americano,
ele um alto executivo de uma empresa mundial.
Até o momento, os motivos e o autor ou os autores do crime estão sendo procurados, mas o estrago feito na
imagem do Rio desta vez foi injusto.
Fica mesmo por conta do azar.
O episódio nada tem a ver com a
violência urbana, da qual a cidade é
vítima, cúmplice e testemunha. Foi
um caso particular, sobre o qual começam as hipóteses mais contraditórias, envolvendo desde a filha mais
velha do casal, de 13 anos, até complicada operação empresarial, com origem e destino na rede de corrupção
estatal, uma vez que o executivo da
Shell trabalhava num projeto de canalização de gás que movimentaria
milhões de dólares entre firmas particulares (nacionais e estrangeiras) e o
próprio governo brasileiro.
O disse-não-disse começa a correr
solto. A polícia carioca descartou preliminarmente duas hipóteses: a do latrocínio e a da motivação econômica
relacionada com a atividade profissional do executivo norte-americano.
A exclusão da primeira hipótese, a
do latrocínio, parece óbvia, uma vez
que nada foi roubado da casa ou de
seus moradores, nem justificaria a
presença de agentes do FBI destacados para acompanhar o caso como
observadores. Não sendo a motivação de ordem passional, sexual, não
havendo suspeitas de grave desequilíbrio mental ou econômico na família, sobra largo espaço para suposições as mais variadas.
Da vítima principal -o executivo
da Shell- dependeria o projeto final
de uma obra supermilionária, que
criaria comissões legais (e ilegais),
que poderia enriquecer pessoas ou
empresas interessadas no projeto. Sabemos como são negociados os megainvestimentos.
A reação da vítima em face da corrupção, dificultando-a ou impedindo-a, pode ser a chave do mistério.
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