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Editoriais
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Kassab e a chuva
OUTRAS SEIS pessoas morreram ontem na região metropolitana de São Paulo,
vítimas da tempestade que chegou durante a madrugada. Entre
a meia-noite e 7h foi registrada a
maior precipitação pluviométrica na capital, em um único dia,
desde 2006. Em todo o Estado, já
ocorreram pelo menos 22 mortes relacionadas às chuvas nas
últimas duas semanas, a maioria
por deslizamentos de terra.
Tão constantes quanto a chuva, nos últimos dias, têm sido as
declarações do prefeito Gilberto
Kassab (DEM) de que a Prefeitura de São Paulo está preparada
para as cheias, de que há monitoramento frequente das áreas de
risco e limpeza eficiente de bueiros. Seu governo afirma que
transtornos e mortes são o resultado do volume muito grande de
chuva, incomum mesmo nesta
época do ano.
Entretanto, como a Folha
mostrou no sábado, a Prefeitura
de São Paulo não dispõe de um
plano para a prevenção de enchentes e a mitigação de seus
efeitos, obrigatório por lei federal desde 2006. O mapeamento
das áreas de risco, providência
crucial para evitar mortes, foi interrompido em 2003 e retomado
apenas no segundo semestre
deste ano. Além disso, a prefeitura dá sinais de que o problema
não lhe parece prioritário.
Um indício é o projeto de Orçamento para o ano que vem,
aprovado em primeira votação
ontem na Câmara. Com a previsão de receitas recordes -vindas, por exemplo, do aumento
do IPTU-, o prefeito planeja dedicar R$ 25 milhões para obras e
gerenciamento de áreas de risco.
A cifra representa uma quinta
parte dos gastos com publicidade planejados para o ano eleitoral de 2010 (R$ 126 milhões).
O documento é um novo
exemplo da má qualidade de
muitas despesas da prefeitura. O
governo conseguiu bater recordes não só no aumento de verbas
de propaganda -quadruplicadas
desde 2006-, mas também na
criação de secretarias para acomodar aliados. Foram nove, desde que o político do DEM assumiu o posto. A pasta mais recente, do Microempreendedor Individual, nasceu há duas semanas.
Além de elevar a já escorchante carga tributária dos paulistanos, Kassab usa parte dos recursos adicionais para alimentar a
máquina político-burocrática da
prefeitura. A principal estrela do
DEM pratica tudo o que seu partido condena no governo federal.
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