São Paulo, quarta-feira, 09 de dezembro de 2009

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ANTONIO DELFIM NETTO

Variável de ajuste

NA VISITA DE Obama à China, não houve nenhum acordo importante: a China fez ouvidos moucos à queixa americana sobre o câmbio, e os EUA reciprocaram, negando-se a considerá-la "economia de mercado". No final, simplesmente os dois comunicaram (como senhores do mundo) que não estavam prontos para assumir uma meta quantitativa para o controle da emissão dos gases com efeito estufa.
À decepção inicial seguiu-se um tremendo tsunami (iniciado pelo Brasil) de indignação do "resto do mundo", e os dois, Obama e Hu Jintao, resolveram melhorar os seus retratos. O primeiro vai a Copenhague com uma meta de 17%; o segundo, com uma que pretende a redução de CO2/PIB entre 40% e 45% até 2020. Menos mal!
O número de Obama já estava no projeto de lei "American Clean Energy and Security", aprovado na Câmara em julho, que terá o nome de lei Waxman-Markey quando aprovado no Senado. Ele foi largamente discutido com o setor privado (agricultura, indústria e serviços) dos EUA e revela o que sobrou depois do eficiente trabalho de poda dos lobbies de Washington.
Em relação à China, o seu Plano Quinquenal (2006-2010) propunha uma redução de 10% da emissão de todos os poluentes e uma referência ao controle dos gases que produzem o efeito estufa (dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e clorofluorcarbono). Aparentemente (fora do espetáculo da Olimpíada em Pequim), ele não teve efeito prático muito visível.
A meta chinesa é esperta. Compromete-se com o aumento da eficiência da estrutura produtiva na relação CO2/PIB sem sacrificar o crescimento econômico de 9% ao ano, o mínimo que o Partido Comunista Chinês imagina capaz de manter o equilíbrio social. Isso talvez seja possível, uma vez que sua matriz energética é a mais "suja" do mundo. A produção de CO2 por unidade do PIB na China é várias vezes maior do que a dos EUA.
O país pretende construir ao menos 32 usinas atômicas até 2020. Tudo isso, porém, envolve imensos investimentos e a apropriação de tecnologia. Uma coisa é certa: a variável de ajuste é o crescimento mínimo do PIB em 9%!
No caso brasileiro, não há certeza de que isso ocorra. Em 2007, a emissão de todos os gases estufa (em milhões de toneladas de CO2-equivalente) foi de 1.700. Pelas últimas estimativas, seria de 2.700 em 2020. Propusemos reduzi-la para 1.700. Se supusermos um crescimento do PIB de 5% ao ano, isso implicará uma redução da relação CO2-eq/PIB de 48%, maior que a da China. A diferença é que já temos a matriz energética mais limpa do mundo, enquanto a China tem a mais suja, o que provavelmente exigirá maior sacrifício.
Qual será nossa variável de ajuste?

contatodelfimnetto@uol.com.br


ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras nesta coluna.


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