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ANTONIO DELFIM NETTO
Variável
de ajuste
NA VISITA DE Obama à China, não houve nenhum
acordo importante: a China
fez ouvidos moucos à queixa americana sobre o câmbio, e os EUA reciprocaram, negando-se a considerá-la "economia de mercado". No
final, simplesmente os dois comunicaram (como senhores do mundo) que não estavam prontos para
assumir uma meta quantitativa para o controle da emissão dos gases
com efeito estufa.
À decepção inicial seguiu-se um
tremendo tsunami (iniciado pelo
Brasil) de indignação do "resto do
mundo", e os dois, Obama e Hu
Jintao, resolveram melhorar os
seus retratos. O primeiro vai a Copenhague com uma meta de 17%; o
segundo, com uma que pretende a
redução de CO2/PIB entre 40% e
45% até 2020. Menos mal!
O número de Obama já estava no
projeto de lei "American Clean
Energy and Security", aprovado na
Câmara em julho, que terá o nome
de lei Waxman-Markey quando
aprovado no Senado. Ele foi largamente discutido com o setor privado (agricultura, indústria e serviços) dos EUA e revela o que sobrou
depois do eficiente trabalho de poda dos lobbies de Washington.
Em relação à China, o seu Plano
Quinquenal (2006-2010) propunha uma redução de 10% da emissão de todos os poluentes e uma
referência ao controle dos gases
que produzem o efeito estufa (dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e clorofluorcarbono).
Aparentemente (fora do espetáculo da
Olimpíada em Pequim), ele não teve efeito prático muito visível.
A meta chinesa é esperta. Compromete-se com o aumento da eficiência da estrutura produtiva na
relação CO2/PIB sem sacrificar o
crescimento econômico de 9% ao
ano, o mínimo que o Partido Comunista Chinês imagina capaz de
manter o equilíbrio social. Isso talvez seja possível, uma vez que sua
matriz energética é a mais "suja"
do mundo. A produção de CO2 por
unidade do PIB na China é várias
vezes maior do que a dos EUA.
O país pretende construir ao
menos 32 usinas atômicas até
2020. Tudo isso, porém, envolve
imensos investimentos e a apropriação de tecnologia. Uma coisa é
certa: a variável de ajuste é o crescimento mínimo do PIB em 9%!
No caso brasileiro, não há certeza de que isso ocorra. Em 2007, a
emissão de todos os gases estufa
(em milhões de toneladas de CO2-equivalente) foi de 1.700. Pelas últimas estimativas, seria de 2.700
em 2020. Propusemos reduzi-la
para 1.700. Se supusermos um
crescimento do PIB de 5% ao ano,
isso implicará uma redução da relação CO2-eq/PIB de 48%, maior
que a da China. A diferença é que já
temos a matriz energética mais
limpa do mundo, enquanto a China tem a mais suja, o que provavelmente exigirá maior sacrifício.
Qual será nossa variável de ajuste?
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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