São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003

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LIMITES DA AJUDA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva corre o risco de ultrapassar a tênue fronteira entre o auxílio legítimo e a intromissão no delicado confronto político venezuelano. Isso a depender do que signifique a renovada decisão de Lula de continuar ajudando o país presidido por Hugo Chávez.
O líder venezuelano -assim como o ditador cubano, Fidel Castro- recebeu de Lula um tratamento diferenciado quando da posse em Brasília: um encontro na primeira manhã de trabalho do petista como presidente. Chávez pede que o Brasil amplie sua ajuda, enviando técnicos da Petrobras para recolocar em operação a PDVSA (estatal venezuelana de petróleo), cuja produção foi estrangulada pela ampla greve oposicionista que pressiona pela saída do governante. O líder venezuelano também defende a constituição de uma megaestatal energética na América do Sul, que passaria pela fusão entre a Petrobras e a PDVSA.
Seria um despautério o governo brasileiro prestar-se ao papel pretendido por Chávez. Nesse caso, seria válido falar em interferência abusiva do governo brasileiro em assuntos internos da política venezuelana.
O Brasil pode exercer uma tarefa relevante na condução a bom porto do impasse político na Venezuela. Mas esse papel passa, necessariamente, pelo reforço da mediação internacional e multilateral da crise -articulando OEA, ONU e diplomacias de países desenvolvidos. Passa, portanto, pela construção de uma pauta de negociações que seja aceita tanto pelo chavismo como pela oposição.
Justa ou injustamente, fatos recentes reforçaram o estigma de que Lula é mais amigo de Chávez do que da Venezuela. O Itamaraty deveria, pois, esforçar-se para ocupar posição mais equidistante das partes em conflito. Sem reconquistar a confiança da oposição a Hugo Chávez, o Brasil não obterá legitimidade para participar da mediação do conflito e correrá o risco de ver-se associado definitivamente a um presidente cujas perspectivas de continuidade no poder não são nada favoráveis.


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