|
Próximo Texto | Índice
LIMITES DA AJUDA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva corre o risco de ultrapassar a tênue fronteira entre o auxílio legítimo e a intromissão no delicado confronto político venezuelano. Isso a depender do que signifique a renovada decisão de Lula de
continuar ajudando o país presidido
por Hugo Chávez.
O líder venezuelano -assim como
o ditador cubano, Fidel Castro- recebeu de Lula um tratamento diferenciado quando da posse em Brasília: um encontro na primeira manhã
de trabalho do petista como presidente. Chávez pede que o Brasil amplie sua ajuda, enviando técnicos da
Petrobras para recolocar em operação a PDVSA (estatal venezuelana de
petróleo), cuja produção foi estrangulada pela ampla greve oposicionista que pressiona pela saída do governante. O líder venezuelano também
defende a constituição de uma megaestatal energética na América do
Sul, que passaria pela fusão entre a
Petrobras e a PDVSA.
Seria um despautério o governo
brasileiro prestar-se ao papel pretendido por Chávez. Nesse caso, seria
válido falar em interferência abusiva
do governo brasileiro em assuntos
internos da política venezuelana.
O Brasil pode exercer uma tarefa relevante na condução a bom porto do
impasse político na Venezuela. Mas
esse papel passa, necessariamente,
pelo reforço da mediação internacional e multilateral da crise -articulando OEA, ONU e diplomacias de
países desenvolvidos. Passa, portanto, pela construção de uma pauta de
negociações que seja aceita tanto pelo chavismo como pela oposição.
Justa ou injustamente, fatos recentes reforçaram o estigma de que Lula
é mais amigo de Chávez do que da
Venezuela. O Itamaraty deveria, pois,
esforçar-se para ocupar posição
mais equidistante das partes em conflito. Sem reconquistar a confiança
da oposição a Hugo Chávez, o Brasil
não obterá legitimidade para participar da mediação do conflito e correrá
o risco de ver-se associado definitivamente a um presidente cujas perspectivas de continuidade no poder
não são nada favoráveis.
Próximo Texto: Editoriais: CIÊNCIA E TECNOLOGIA Índice
|