São Paulo, sexta-feira, 10 de janeiro de 2003

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CIÊNCIA E TECNOLOGIA

A impressão que se tem depois de ouvir alguns pronunciamentos e ler algumas declarações do ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral (PSB-RJ), é a de que ele ainda não sabe bem o que fazer na pasta. O que produziu até agora de mais relevante foi um mal-entendido, que quase se transfigurou numa contenda diplomática, a respeito do desenvolvimento de tecnologia nuclear pelo Brasil.
A entrevista concedida por Amaral a esta Folha, publicada anteontem, não foi suficiente para desfazer essa impressão. Em meio a idéias vagas -como a de, talvez, levar a termo a construção da terceira usina nuclear em Angra dos Reis (RJ)-, não se vislumbra um foco pretendido para a política, uma hierarquização de diretrizes propriamente dita.
Intenções como a de descentralizar a produção de ciência no Brasil ou a de aumentar valor e quantidade das bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq) carecem de análise mais aprofundada.
É preciso fomentar o desenvolvimento e a geração de renda nas regiões mais pobres e atrasadas do país. Mas é um equívoco, a partir daí, concluir que a distribuição da produção de ciência e tecnologia tenha que ser regionalmente equilibrada. A inovação e a pesquisa de excelência, hoje, requerem concentração e escala, mormente num país de recursos escassos. Quanto ao CNPq, não é desejável falar em aumento de bolsas antes de proceder à reforma dessa agência de fomento, cujos métodos de gestão estão ultrapassados.
A política científica e tecnológica federal nem sequer conquistou algo básico para seu sucesso: autonomia. Amaral pouco toca nesse ponto. É desejável que o ministro busque superar a impressão inicial acerca de sua nomeação com um mergulho urgente e radical nos principais problemas de sua pasta, o que passa pela formação de equipe competente e pela consulta dos atores sociais diretamente envolvidos na produção e no uso de ciência e tecnologia.


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