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PAÍSES CORRUPTOS
É difícil de compreender a insistência do governo norte-americano de incluir na declaração
final da Cúpula das Américas, que terá lugar no México na semana que
vem, uma cláusula anticorrupção.
Na imaginação dos diplomatas dos
EUA, o mecanismo funcionaria mais
ou menos como o da cláusula democrática, que já consta dos estatutos da
OEA (Organização dos Estados
Americanos), e prevê a exclusão de
países em que ocorra grave violação
do processo democrático.
Não é preciso ser um gênio das relações internacionais para perceber
que os dois fenômenos têm dinâmicas muito distintas. Embora sempre
se possa discutir se determinados
atos constituem ou não uma violação
das regras democráticas, é certo que
existem ações que são inequívoca e
indiscutivelmente golpistas. É contra
essas últimas que a cláusula democrática pode ter algum efeito.
Bastante diverso é o caso da corrupção. A rigor, apenas um país governado diretamente por Deus e habitado exclusivamente por anjos estaria livre desse mal. Não é o caso das
Américas, onde todos os países, inclusive os EUA, têm problemas com
a corrupção. A dificuldade em criar
um mecanismo do tipo cláusula democrática é que seria preciso definir
um montante de corrupção "aceitável" e criar critérios para medi-la
-ou então fechar a OEA.
Opor-se à insensata iniciativa não
significa deixar de reconhecer que é
legítima a preocupação dos EUA para com os inquietantes níveis de corrupção na América Latina. Não são
apenas os empresários norte-americanos que ganhariam com a elevação
dos padrões éticos na região. Os
maiores beneficiários seriam justamente os povos latino-americanos.
A questão é que o combate à corrupção, diferentemente da resistência a
um golpe de Estado, passa por um
processo complexo que envolve educação, mudanças culturais e até preparo da polícia e do Judiciário. Não é
um problema que se resolverá só
com tratados internacionais.
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