São Paulo, quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Luz sobre o papel do sistema financeiro

FABIO C. BARBOSA

O setor financeiro tem cumprido o seu papel na equação econômica que busca o desenvolvimento da sociedade

A ECONOMIA brasileira encerrou 2007 de forma muito positiva. Os indicadores mostram forte crescimento em muitos setores, sustentado pela estabilidade econômica, que se manteve preservada nos últimos anos. Esse processo de expansão deixou clara a importância de termos trabalhado as bases. Por causa disso, temos perspectivas positivas para a economia, estimulando o maior nível de investimento e realimentando todo o processo.
Alguns resultados saltaram aos olhos em 2007. O volume de vendas da indústria automobilística bateu recorde, superando o volume de 1997, até então o mais alto.
A indústria, em geral, mostrou ser extremamente ágil, reagindo com competência ao câmbio valorizado.
Os indicadores mostram que 83% dos subsetores industriais apresentaram expansão em relação ao ano anterior.
Esse número só foi superado em 2004, ano de recuperação econômica.
O sistema financeiro tem desempenhado papel central nessa retomada do crescimento. O crédito é, reconhecidamente, um dos principais motores dessa retomada na economia. O crescimento médio do crédito nos últimos anos tem sido superior a 20% ao ano, tendo atingido 27% em 2007.
Os bancos têm feito importantes investimentos para suportar esse ritmo de crescimento. São várias as razões que viabilizaram essa expansão.
Cito a queda na taxa de juros básica (Selic), bem como a efetiva e representativa queda nos "spreads" (margens) médios e o alongamento dos prazos, que têm viabilizado o crédito para um número cada vez maior de pessoas e empresas.
Ajustes na estrutura jurídica também tiveram impacto positivo. A mais notória foi a mudança feita no crédito imobiliário, que possibilitou um crescimento médio de mais de 50% ao ano nos últimos anos, provocando um grande "boom" no setor.
Esse fato merece destaque, pois é um caso comprovado de que, quando se trabalha no diagnóstico preciso e correto do problema, as medidas corretivas são mais apropriadas e, portanto, mais eficazes. De nada adianta uma análise superficial das questões, o que quase sempre nos leva a seguir o que chamo de "pistas falsas".
A base de clientes ativos nos bancos subiu de 77 milhões em 2002 para mais de 100 milhões. Isso representa inclusão social, pois as pessoas passam a ter acesso a uma moderna rede de atendimento, sem, por exemplo, ter que depender de mecanismos ineficientes, como descontar cheque no comércio, sempre com desvantagem econômica. Ora, se a base de clientes no sistema financeiro aumentou de forma tão expressiva, é porque o sistema financeiro ficou mais acessível e, sim, mais barato.
Ou seja, o setor financeiro tem cumprido o seu papel na complexa equação econômica que busca o desenvolvimento da sociedade. Um setor financeiro forte é necessário para que se tenha uma economia forte -e vice-versa. Os interesses são convergentes.
Os acontecimentos recentes -e ainda atuais- que se passam no mercado financeiro internacional (principalmente com a questão do "subprime", crédito imobiliário de segunda linha) mostram o problema que se cria para a sociedade quando o sistema financeiro enfrenta dificuldades. Embora tenha sido uma operação de curto prazo, vale destacar que, em dezembro de 2007, o Banco Central Europeu injetou dinheiro público -US$ 500 bilhões (!)- para garantir a liquidez do sistema.
No Brasil, o sistema não se expôs a riscos. Pelo contrário, apresenta uma solidez que garante uma boa perspectiva de crescimento econômico para 2008. Ao contrário das perspectivas para os EUA e a Europa, onde o impacto da crise no setor financeiro pode atrapalhar o ritmo de crescimento.
É importante que coloquemos luz nesse debate sobre o papel dos bancos no Brasil. O sistema financeiro tem compromisso explícito com a transparência -e muito se tem feito nessa direção. É claro que muito ainda temos para ser feito, como sempre. Por outro lado, faz-se necessário, também, que os demais setores da sociedade busquem aprofundar e colocar luz nas suas idéias e nas suas avaliações sobre o setor financeiro. Preconceitos são nocivos e só servem para levar a medidas inadequadas, que acabam por prejudicar a complexa equação econômica. É claro que ninguém quer isso.
Assim, defender a verdade sobre o sistema financeiro, baseado em fatos, nem sempre é fácil, nem sempre é popular, mas é sempre o melhor caminho no longo prazo. Precisamos entender os fatos como eles são.
Isso é do interesse de todos. É urgente colocar mais luz sobre esse debate.


FABIO COLLETTI BARBOSA, 53, administrador de empresas, é presidente da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e do Banco Real.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br

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