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CLAUDIA ANTUNES
Vozes anticaos
O GOVERNO israelense trata
de enquadrar as críticas à
ofensiva em Gaza na lógica
totalizante da "guerra ao terror".
Se alguém condena a investida,
chama atenção para os mortos palestinos e teme suas consequências, é acusado de relativismo, de
apoiar o grupo islâmico Hamas.
Como aos fundamentalistas do
outro lado, interessa aos extremistas em Israel substituir o conflito
nacional com os palestinos por luta
religiosa. Funciona como profecia
autocumprida, que não oferece saída política, só batalha de vida ou
morte. E, nesse caso, não interessa
mesmo o custo em vidas inimigas.
Por essa lógica, depois de reduzir
Gaza a pó, chegará a hora de obliterar o Irã, enquanto os EUA prosseguem a função de queimar os confins afegãos (onde, aliás, são milhares os mortos civis em ataques da
aviação da Otan contra o grupo
fundamentalista Taleban).
Logo a União Europeia virá para
reconstruir as mesmas instituições
que financiou e agora são destroços
em Gaza (ministérios, Parlamento). E, antes que os palestinos tenham a oportunidade de voltar-se
contra o Hamas -o argumento estratégico dos defensores da guerra-, outro conflito virá.
"A questão que deve ser respondida não é "Quem está certo?", mas
"Como mais esta rodada de batalhas vai melhorar a situação geral?"
Nesse ponto, Israel não tem um argumento convincente", escreveu
Gideon Lichfield, correspondente
em Jerusalém da "Economist".
Como Lichfield, outras dezenas
de pessoas com posição indubitável em favor do Estado de Israel
questionam a guerra, e suas vozes,
que têm espaço reduzido na mídia
israelense (ontem o editor do jornal "Maariv" se desculpou por um
colunista ter acusado o Exército de
crimes de guerra), merecem ser
ouvidas. Eis uma pequena mostra:
Roger Cohen, colunista do "New
York Times": "Nunca me senti tão
deprimido em relação a Israel, tão
envergonhado por suas ações, tão
desesperado por algum acordo de
paz que pudesse pôr fim ao domínio dos mortos em favor de uma
oportunidade para os vivos".
Bernard Avishai e Sam Bahour,
escritor israelense e empresário
palestino: "Não há solução militar
para este conflito. Até que os dois
lados se deem conta disso, o mundo só pode esperar violência e vingança, com civis dos dois lados pagando o preço por líderes que -por
pressão, ambição ou orgulho- sentem que devem infligir o dano
maior, disparar o último tiro ou fazer a ameaça mais crível".
Gideon Levy, jornalista do "Haaretz": "Qualquer um que justifica
esta guerra também justifica todos
os seus crimes. Qualquer um que a
vê como uma guerra defensiva deve assumir a responsabilidade moral por isso. Qualquer um que encoraja políticos e o Exército a continuarem também terá que portar
a marca de Caim que será impressa
em sua testa. Os que apoiam a
guerra também apoiam o horror".
CLAUDIA ANTUNES é editora de Mundo.
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