São Paulo, domingo, 10 de janeiro de 1999

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Urgência urgentíssima

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Admito: fiquei emocionado ao ver a cara séria dos congressistas reunidos extraordinariamente para votar as urgências urgentíssimas do governo. Algumas até nem eram sérias: eram seriíssimas, para combinar com as urgências no superlativo. Sem falar nas caras sinistras de alguns, que, sem combinar com a convocação extraordinária, são ordinariamente sinistras.
Na recente história de nosso Congresso, a única urgência urgentíssima que funcionou foi a da emenda constitucional que possibilitou a reeleição do atual presidente da República. Bem verdade que a urgência teve um combustível que provocou a renúncia de dois deputados, envolveu o bom nome do finado Sérgio Motta e de governadores. Enfim, como diria o Eça, o governo fê-la bem, essa urgência urgentíssima para FHC continuar presidente da coisa pública.
No caso de agora, houve barbeiragem do governo. A questão deveria ser votada no período ordinário do Legislativo. Mas, nos últimos meses do ano que passou, as energias de FHC estavam concentradas em prestigiar os leilões do Mendonça de Barros, sem falar naquilo que os colunistas especializados costumam chamar de "desenho" do Estado.
O Brasil está em vésperas de fazer 500 anos, e é como se antes de FHC não tivesse existido. Tudo dependerá desse novo desenho que ele está fazendo há quatro anos e vai gastar mais quatro para fazer a arte-final.
Desconfio que esse tal desenho vai dar em droga. Aliás, já está dando. Repetindo minha crônica "Balanço de governo", vamos lá: FHC quintuplicou a dívida pública, aumentou o déficit fiscal, bagunçou a balança de pagamentos, produziu em massa o desemprego, quebrou empresas e colocou o parque industrial na véspera da quebradeira geral. A venda das estatais sumiu pelo ralo dos juros da dívida externa.
Isso não é uma opinião. São fatos. Pedir urgência para continuar desenhando essa... bem, o espaço da coluna acabou, e fico por aqui.



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