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DECEPÇÃO E INTERESSE
A transferência para o governo federal de práticas e experiências tipicamente sindicais foi
anunciada por Luiz Inácio Lula da
Silva ao longo da campanha presidencial. Se era preciso provar a distância que existe entre o funcionamento de um governo e a condução
de um sindicato, o caso da "decepção" do presidente em relação aos
produtores de álcool, na semana
passada, foi eloquente. O teor da frase de Lula revela um sentimento de
que acordos fundados na palavra podem sustentar uma ação de Estado.
Não foi a primeira vez que usineiros sabotaram intenções de governo.
Sua incapacidade de manter a oferta
do álcool combustível ao longo do
tempo foi um dos fatores que puseram a perder anos de investimento (e
de fartos subsídios) numa matriz
energética mais limpa ambientalmente e menos dependente das vicissitudes da economia global.
Como já ocorreu no passado, um
surto na cotação internacional do
açúcar fez com que as usinas ampliassem sua produção para exportação, à custa do fabrico de álcool. O
resultado foi um aumento nos preços do álcool no mercado doméstico, o que afetou não apenas os proprietários de carros movidos a esse
combustível, mas também o preço
da gasolina, que usa álcool anidro
como aditivo.
Tentar conter essa busca de lucro
rápido através de um diálogo com
produtores que ostentam um histórico de falta de credibilidade é pouco
promissor. Para retomar o Proálcool
num ambiente de câmbio desvalorizado, é preciso que o governo obtenha garantias reais que representem
ônus financeiros para os produtores
que não cumprirem sua parte.
Se não for assim, é melhor deixar
que o mercado se encarregue de produzir breves picos de alta lucratividade no setor, entremeados por longos
períodos de ganhos baixos, em que
usineiros não cessam de acorrer aos
governantes de turno pedindo a volta
do Proálcool ou o aumento do teor
de álcool anidro na gasolina. Essa
não é uma questão de decepção presidencial, mas de interesse público.
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