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São Paulo, segunda-feira, 10 de fevereiro de 2003

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POLLYANNAS

A personagem Pollyanna, um clássico da literatura infantil, tornou-se um emblema do otimismo em situações dramáticas. É esse espírito que parece contaminar alguns analistas e técnicos do governo Lula.
É fato que houve um ajuste. Nas contas externas, o país voltou a produzir um megassuperávit comercial. Em um ano, o déficit em conta corrente caiu em US$ 15,5 bilhões. Nas contas públicas, o superávit bateu as metas ditadas pelo FMI. Mas os mercados teriam continuado pessimistas com relação ao Brasil por conta de um mero erro de avaliação.
Os otimistas têm alguma razão, pois uma característica do mercado financeiro é o chamado "comportamento de manada". Uma vez sedimentada a tendência pessimista, ela tende a ganhar inércia. Como no estouro de uma boiada, a partir de certo ponto os animais correm todos no mesmo sentido, por imitação. O raciocínio vale também para ciclos de otimismo nos mercados financeiros.
No atual contexto doméstico e global, no entanto, já se observam há pelo menos dois anos tendências de piora estruturais. Para avaliar essas tendências não há como se basear na observação das oscilações, por definição exageradas, dos mercados no curto prazo. Sobre as contas brasileiras, é fato que os bons resultados no comércio exterior se devem ao desaquecimento econômico, somado à forte desvalorização cambial. Caem as importações.
Nas contas públicas, os resultados refletem boa dose de austeridade, mas se beneficiam também dos efeitos da própria inflação sobre o Orçamento e de receitas extraordinárias.
As "pollyannas" do lulismo enxergam nesses ajustes sinais inequívocos de que o pior da crise já passou. Ou de que os mercados financeiros exageram em sua avaliação do Brasil.
A verdade é que se trata de ajustes emergenciais, insustentáveis a longo prazo. Sem mudanças estruturais o risco financeiro seguirá elevado, apesar das esperanças algo pueris.



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