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POLLYANNAS
A personagem Pollyanna, um
clássico da literatura infantil,
tornou-se um emblema do otimismo em situações dramáticas. É esse
espírito que parece contaminar alguns analistas e técnicos do governo
Lula.
É fato que houve um ajuste. Nas
contas externas, o país voltou a produzir um megassuperávit comercial.
Em um ano, o déficit em conta corrente caiu em US$ 15,5 bilhões. Nas
contas públicas, o superávit bateu as
metas ditadas pelo FMI. Mas os mercados teriam continuado pessimistas com relação ao Brasil por conta
de um mero erro de avaliação.
Os otimistas têm alguma razão,
pois uma característica do mercado
financeiro é o chamado "comportamento de manada". Uma vez sedimentada a tendência pessimista, ela
tende a ganhar inércia. Como no estouro de uma boiada, a partir de certo ponto os animais correm todos no
mesmo sentido, por imitação. O raciocínio vale também para ciclos de
otimismo nos mercados financeiros.
No atual contexto doméstico e global, no entanto, já se observam há
pelo menos dois anos tendências de
piora estruturais. Para avaliar essas
tendências não há como se basear na
observação das oscilações, por definição exageradas, dos mercados no
curto prazo. Sobre as contas brasileiras, é fato que os bons resultados no
comércio exterior se devem ao desaquecimento econômico, somado à
forte desvalorização cambial. Caem
as importações.
Nas contas públicas, os resultados
refletem boa dose de austeridade,
mas se beneficiam também dos efeitos da própria inflação sobre o Orçamento e de receitas extraordinárias.
As "pollyannas" do lulismo enxergam nesses ajustes sinais inequívocos de que o pior da crise já passou.
Ou de que os mercados financeiros
exageram em sua avaliação do Brasil.
A verdade é que se trata de ajustes
emergenciais, insustentáveis a longo
prazo. Sem mudanças estruturais o
risco financeiro seguirá elevado, apesar das esperanças algo pueris.
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