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Foco na competição
A fim de ser eficaz, nova política de biotecnologia deve privilegiar áreas em que as empresas têm mais chances de competir
BIOTECNOLOGIA, nanotecnologia e tecnologia da
informação compõem o
tripé técnico identificado há décadas como motor da
nova economia. Com cerca de
20% da biodiversidade do mundo e tradição vigorosa de pesquisa biológica, o Brasil detém condições propícias para destacar-se na primeira dessas tecnologias. Precisa, porém, apressar-se.
Lula necessitou de um mandato inteiro para formular uma política para o setor. Criou um Fórum de Competitividade em Biotecnologia em 2004, mas só agora, em seu segundo período, ganha corpo a chamada Política de
Desenvolvimento da Biotecnologia, com o decreto nš 6.041.
Como de praxe nesses documentos mais afeitos a compilar
boas intenções do que designar
soluções, cria-se uma nova entidade, o Comitê Nacional de Biotecnologia. São 17 órgãos, coordenados pelo Ministério do Desenvolvimento. Desta vez, ao
menos, não se esqueceu da pasta
do Meio Ambiente, sempre
apontada como um obstáculo.
Outra novidade foi a elevação
do investimento previsto, em relação à versão de julho de 2006.
De R$ 7 bilhões, o desembolso
estimado passou a R$ 10 bilhões
ao longo de uma década. A expectativa é que 40% provenham
do setor privado, tradicionalmente refratário a investir em
pesquisa e desenvolvimento. A
meta é posicionar o país entre as
cinco potências biotecnológicas.
Os R$ 6 bilhões de recursos públicos sairiam do BNDES, da Finep (Financiadora de Estudos e
Projetos, que cuida dos fundos
setoriais, como o de biotecnologia) e do Orçamento da União. A
materialização desses valores é
tão incerta quanto a dos R$ 4 bilhões de contrapartida de empresas. O Ministério da Fazenda
não tem hesitado em contingenciar verbas dos fundos setoriais,
em prol do superávit primário.
No discurso de apresentação
da política, Lula afirmou que almeja reeditar no setor de biotecnologia a liderança alcançada
com biocombustíveis. A comparação vem a propósito. Etanol e
biodiesel são exemplos claros da
necessidade de ativismo estatal
-como na mistura obrigatória
desses combustíveis renováveis
àqueles de origem fóssil- para
enraizar no mercado um setor de
base tecnológica.
Não se pode dizer que a Política de Desenvolvimento da Biotecnologia tenha alcançado tal
estágio de maturação. As 30 páginas de anexos compilam minuciosamente alvos estratégicos
em saúde humana, agropecuária,
indústria e ambiente. Não chegam, contudo, a estabelecer prioridades claras entre essas áreas.
Produzir no país vacinas e outros medicamentos complexos
ou estratégicos, hoje importados, sempre será uma providência de bom senso. Não prejudica
que tal objetivo figure no plano,
decerto, mas seu potencial de
mercado para o Brasil dificilmente rivalizaria com o da
agroindústria.
Se a meta fundamental do plano está na competitividade, é para os projetos e setores mais aptos a conquistá-la que devem
atentar os órgãos encarregados
de pôr a nova política em prática,
como o BNDES e a Finep.
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