|
Próximo Texto | Índice
Obamania
Figura de Barack Obama cerca de inédito interesse, e de várias incertezas, a corrida presidencial nos EUA
UM NEGRO, Barack Obama, e uma mulher, Hillary Clinton, disputam acirradamente a
indicação do Partido Democrata
à vaga de candidato nas eleições
presidenciais americanas. Tornou-se lugar-comum constatar a
novidade histórica da situação.
Ainda que não sejam desprezíveis as chances de vitória de um
republicano branco, como o senador John McCain, o pleito de
2008 coloca os Estados Unidos
na eventualidade de ver na Casa
Branca uma personalidade capaz
de consagrar, simbolicamente,
um processo de lutas e conquistas que remonta, pelo menos, aos
anos 60.
Uma candidatura Hillary Clinton representaria, por certo,
mais uma evidência de que o preconceito contra as mulheres é
coisa do passado. Mas nos dias de
hoje uma consideração como essa já parece possuir, em si mesma, algo de envelhecido.
De Golda Meir a Margaret
Thatcher, de Indira Gandhi a Michelle Bachelet, uma tradição já
consolidada de mulheres em
chefias de governo não cercaria
uma eventual vitória de Hillary
Clinton de grande ineditismo
desse ponto de vista.
Estivéssemos simplesmente
diante de uma disputa entre, por
exemplo, McCain e Hillary, sem
dúvida seriam menores as sensações de surpresa e de interesse
despertadas pelo quadro eleitoral nos Estados Unidos, tanto
dentro quanto fora do país.
É a figura de Barack Obama,
até recentemente um desconhecido senador pelo Estado de Illinois, que na verdade concentra
as atenções, as expectativas e,
sem dúvida, o fascínio da opinião
pública mundial.
Não é exagero, com efeito, falar
numa espécie de "obamania" a
tomar conta da imprensa e dos
seus leitores, da mídia e do seu
público. O próprio Obama soube
configurar uma imagem e um
discurso que tornam positivos os
pontos que poderiam surgir em
seu desfavor.
Se não tem a experiência de
Hillary Clinton, é porque representaria, mais do que a ex-primeira-dama, "o futuro" contra
"o passado". Se obtém muitos
votos entre os afrodescendentes,
neutraliza o preconceito racial
ao lançar uma plataforma que
preza a "união" de todos os americanos, dissolvendo os particularismos de cor, de origem social
ou de religião.
Se as propostas de Obama ainda são vagas, menos detalhadas
do que as de sua concorrente democrata, essa carência adquire
um ar de flexibilidade e elegância
e contribui para a curiosidade
em torno de seu nome. Por fim,
se suas chances são incertas,
também é incerto o dia de amanhã -cujas possibilidades e esperanças Barack Obama diz representar.
Fenômeno midiático ou possibilidade efetiva de mudança? Só
o transcorrer da campanha, talvez, haverá de responder a essa
pergunta. O fato é que os EUA
saem da administração George
W. Bush profundamente desmoralizados no exterior e profundamente divididos no plano interno. Caberá ao próximo presidente americano, seja quem for, superar a lastimável herança que
lhe foi deixada.
Próximo Texto: Editoriais: Alento
Índice
|