São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2008

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Obamania

Figura de Barack Obama cerca de inédito interesse, e de várias incertezas, a corrida presidencial nos EUA

UM NEGRO, Barack Obama, e uma mulher, Hillary Clinton, disputam acirradamente a indicação do Partido Democrata à vaga de candidato nas eleições presidenciais americanas. Tornou-se lugar-comum constatar a novidade histórica da situação.
Ainda que não sejam desprezíveis as chances de vitória de um republicano branco, como o senador John McCain, o pleito de 2008 coloca os Estados Unidos na eventualidade de ver na Casa Branca uma personalidade capaz de consagrar, simbolicamente, um processo de lutas e conquistas que remonta, pelo menos, aos anos 60.
Uma candidatura Hillary Clinton representaria, por certo, mais uma evidência de que o preconceito contra as mulheres é coisa do passado. Mas nos dias de hoje uma consideração como essa já parece possuir, em si mesma, algo de envelhecido.
De Golda Meir a Margaret Thatcher, de Indira Gandhi a Michelle Bachelet, uma tradição já consolidada de mulheres em chefias de governo não cercaria uma eventual vitória de Hillary Clinton de grande ineditismo desse ponto de vista.
Estivéssemos simplesmente diante de uma disputa entre, por exemplo, McCain e Hillary, sem dúvida seriam menores as sensações de surpresa e de interesse despertadas pelo quadro eleitoral nos Estados Unidos, tanto dentro quanto fora do país.
É a figura de Barack Obama, até recentemente um desconhecido senador pelo Estado de Illinois, que na verdade concentra as atenções, as expectativas e, sem dúvida, o fascínio da opinião pública mundial.
Não é exagero, com efeito, falar numa espécie de "obamania" a tomar conta da imprensa e dos seus leitores, da mídia e do seu público. O próprio Obama soube configurar uma imagem e um discurso que tornam positivos os pontos que poderiam surgir em seu desfavor.
Se não tem a experiência de Hillary Clinton, é porque representaria, mais do que a ex-primeira-dama, "o futuro" contra "o passado". Se obtém muitos votos entre os afrodescendentes, neutraliza o preconceito racial ao lançar uma plataforma que preza a "união" de todos os americanos, dissolvendo os particularismos de cor, de origem social ou de religião.
Se as propostas de Obama ainda são vagas, menos detalhadas do que as de sua concorrente democrata, essa carência adquire um ar de flexibilidade e elegância e contribui para a curiosidade em torno de seu nome. Por fim, se suas chances são incertas, também é incerto o dia de amanhã -cujas possibilidades e esperanças Barack Obama diz representar.
Fenômeno midiático ou possibilidade efetiva de mudança? Só o transcorrer da campanha, talvez, haverá de responder a essa pergunta. O fato é que os EUA saem da administração George W. Bush profundamente desmoralizados no exterior e profundamente divididos no plano interno. Caberá ao próximo presidente americano, seja quem for, superar a lastimável herança que lhe foi deixada.


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