São Paulo, domingo, 10 de fevereiro de 2008

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Boas intenções apenas!

NO ARTIGO de domingo passado, referi-me às boas intenções dos líderes mundiais que assinaram um manifesto na reunião anual do Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça) em favor da aceleração dos programas de combate à pobreza. Lamentei não ter visto uma só palavra em favor de uma maior abertura comercial por parte dos países ricos.
Os países ricos querem cobrar um pedágio altíssimo (grandes concessões nos setores da indústria e dos serviços) para abrir levemente o mercado para produtos agrícolas dos países emergentes.
Mais especificamente, eles acham que o sucesso na Rodada Doha depende da boa vontade do Brasil, da Índia, da China e da Argentina.
A própria representante comercial dos Estados Unidos na reunião de Davos, Susan Schwab, reconheceu que a agricultura americana está sendo exageradamente protegida, apesar da sua importância cadente no contexto da economia dos Estados Unidos. O que ela deixou de dizer é que a agricultura americana é crucial no contexto político por ser geradora de votos e de apoios financeiros nas campanhas eleitorais -como também ocorre na França.
A conduta daquela representante foi, sem dúvida, de um certo cinismo, como bem apontou um editorial do "Estadão" de 26/1/08. Ela acha que a agricultura do seu país está sendo excessivamente "paparicada", mas não aceita abrir o mercado para os produtos brasileiros. E faz a conhecida ladainha ao dizer que não pode abrir porque os europeus não abrem. Estes dizem que têm de proteger seus mercados porque os americanos também protegem os seus. E com isso os países que chegaram à modernidade ficam impedidos de utilizar plenamente as suas vantagens comparativas no mercado internacional.
Com todas essas dificuldades, o Brasil exportou em 2007 cerca de US$ 11 bilhões em soja. Nosso país domina 40% do mercado mundial de açúcar e 60% do de etanol. No que tange ao café, à carne bovina e ao frango, temos uma posição de destaque no volume de exportações. Em suco de laranja dá-se o mesmo.
A liderança do Brasil em todos esses produtos reflete um esforço enorme de pesquisa, avanços tecnológicos e trabalho sério dos nossos produtores. Por que eles têm de ser punidos na hora de vender seus produtos?
O mundo continua precisando de alimentos de uma maneira crescente. Para nós, a expansão das exportações agrícolas é fundamental, pois constitui uma das principais fontes de renda, divisas e empregos. Só nos resta continuar lutando em favor de um mercado mais livre e democrático.


antonio.ermirio@antonioermirio.com.br

ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
escreve aos domingos nesta coluna.


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