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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Boas intenções apenas!
NO ARTIGO de domingo passado, referi-me às boas intenções dos líderes mundiais que assinaram um manifesto
na reunião anual do Fórum Econômico Mundial de Davos (Suíça) em
favor da aceleração dos programas
de combate à pobreza. Lamentei
não ter visto uma só palavra em favor de uma maior abertura comercial por parte dos países ricos.
Os países ricos querem cobrar
um pedágio altíssimo (grandes
concessões nos setores da indústria e dos serviços) para abrir levemente o mercado para produtos
agrícolas dos países emergentes.
Mais especificamente, eles acham
que o sucesso na Rodada Doha depende da boa vontade do Brasil, da
Índia, da China e da Argentina.
A própria representante comercial dos Estados Unidos na reunião
de Davos, Susan Schwab, reconheceu que a agricultura americana está sendo exageradamente protegida, apesar da sua importância cadente no contexto da economia dos
Estados Unidos. O que ela deixou
de dizer é que a agricultura americana é crucial no contexto político
por ser geradora de votos e de
apoios financeiros nas campanhas
eleitorais -como também ocorre
na França.
A conduta daquela representante foi, sem dúvida, de um certo cinismo, como bem apontou um editorial do "Estadão" de 26/1/08. Ela
acha que a agricultura do seu país
está sendo excessivamente "paparicada", mas não aceita abrir o
mercado para os produtos brasileiros. E faz a conhecida ladainha ao
dizer que não pode abrir porque os
europeus não abrem. Estes dizem
que têm de proteger seus mercados
porque os americanos também
protegem os seus. E com isso os
países que chegaram à modernidade ficam impedidos de utilizar plenamente as suas vantagens comparativas no mercado internacional.
Com todas essas dificuldades, o
Brasil exportou em 2007 cerca de
US$ 11 bilhões em soja. Nosso país
domina 40% do mercado mundial
de açúcar e 60% do de etanol. No
que tange ao café, à carne bovina e
ao frango, temos uma posição de
destaque no volume de exportações. Em suco de laranja dá-se o
mesmo.
A liderança do Brasil em todos
esses produtos reflete um esforço
enorme de pesquisa, avanços tecnológicos e trabalho sério dos nossos produtores. Por que eles têm de
ser punidos na hora de vender seus
produtos?
O mundo continua precisando
de alimentos de uma maneira crescente. Para nós, a expansão das exportações agrícolas é fundamental,
pois constitui uma das principais
fontes de renda, divisas e empregos. Só nos resta continuar lutando
em favor de um mercado mais livre
e democrático.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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