São Paulo, Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999
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CESTA DE OPORTUNISMOS

Os preços praticados pelo comércio em São Paulo tiveram aumento de 1,31% em apenas uma semana. A cesta básica, sempre em São Paulo, subiu 3,95% neste mês, apesar de transcorridos apenas nove dias.
Em qualquer circunstância, essas notícias, publicadas pela Folha, já seriam preocupantes em um país que começava a se habituar com os benefícios da estabilidade.
Mas tornam-se também inaceitáveis quando se sabe que alguns itens que pouco ou nada têm a ver com a cotação do dólar registraram altas expressivas, como é o caso, entre tantos, de móveis e decorações, que subiram 7,96% em cinco dias.
Além disso, tais aumentos ocorrem em um momento em que há forte retração no consumo, desemprego elevado e juros absurdamente altos -fatores que a teoria econômica diz atuarem contra a elevação de preços.
É óbvio que a desvalorização do real teria fatalmente que provocar aumentos localizados de preços, nos setores muito dependentes de importações, seja de componentes, seja de produtos acabados. Mas daí a generalizar-se a onda de altas vai uma distância que não pode em hipótese alguma ser percorrida sem que haja forte repúdio da opinião pública e, não menos importante, ações firmes por parte do governo.
Afinal, logo que se produziu a desvalorização, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), presidido por Gesner Oliveira, anunciou que o governo dispunha de todos os instrumentos para coibir aumentos abusivos. Chegou pois a hora de passar das palavras à ação.
Mas a tarefa do governo pode revelar-se insuficiente se, ao mesmo tempo, os consumidores não reagirem. Está claro que aumentos não relacionados com a questão cambial são produto da ganância irresponsável, do desejo de obter o máximo de lucro à custa do equilíbrio do país -o que, caso se generalize, será uma insana corrida rumo ao abismo.


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