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Jornalismos
CLÓVIS ROSSI
Madri - Vinte anos de Folha viciam.
Acabei introjetando um dos princípios sagrados da casa -a independência ante partidos e/ou candidatos.
Choca, por isso, verificar que, pelo
menos na atual campanha eleitoral
espanhola, os três grandes jornais exibam tudo, menos independência. Um
("El País") apóia descaradamente o
PSOE (Partido Socialista Operário
Espanhol). O "ABC" é seu contraponto perfeito: torce desbragadamente
pelo conservador PP (Partido Popular).
Por fim, "El Mundo" é, acima de tudo, anti-socialista, com o que acaba
ajudando o PP, a única alternativa
real ao PSOE.
Não que, no Brasil, não haja torcidas idênticas. Basta lembrar o episódio da eleição de 1989, em que a esmagadora maioria dos meios de comunicação, com a notável exceção da
Folha, fez campanha para Fernando
Collor de Mello.
Mas, de lá para cá, houve alguma
evolução, embora a maioria tenha
claramente optado por Fernando
Henrique Cardoso tanto em 1994 como em 98. Mas, talvez pelo desgaste
do apoio escandaloso a um aventureiro como Collor, os meios de comunicação exibem pelo menos algum
pudor. É possível, em qualquer um
deles, ler o que diz a oposição.
Na Espanha também, claro. "El
País", por exemplo, não deixa de noticiar tudo o que faz e diz o primeiro-ministro Aznar. Mas a notícia já vem
acompanhada da crítica, como na
edição de ontem: "Aznar apresenta
oito "grandes" promessas que deixou
de cumprir em seu mandato".
No Brasil, a crítica seria igualmente
feita, mas, em geral, em separado, no
editorial ou em alguma coluna ou em
uma rubrica do tipo "não é o que parece", que a Folha andou usando.
Prefiro, é claro, a fórmula Folha.
Mas me pergunto se, caso não se queira ou não se possa ser independente,
não seria melhor a forma espanhola,
aberta e sem pudores. Pelo menos o
leitor não estaria comprando propaganda como se fosse informação.
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