São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2000


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Jornalismos

CLÓVIS ROSSI

Madri - Vinte anos de Folha viciam. Acabei introjetando um dos princípios sagrados da casa -a independência ante partidos e/ou candidatos.
Choca, por isso, verificar que, pelo menos na atual campanha eleitoral espanhola, os três grandes jornais exibam tudo, menos independência. Um ("El País") apóia descaradamente o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol). O "ABC" é seu contraponto perfeito: torce desbragadamente pelo conservador PP (Partido Popular).
Por fim, "El Mundo" é, acima de tudo, anti-socialista, com o que acaba ajudando o PP, a única alternativa real ao PSOE.
Não que, no Brasil, não haja torcidas idênticas. Basta lembrar o episódio da eleição de 1989, em que a esmagadora maioria dos meios de comunicação, com a notável exceção da Folha, fez campanha para Fernando Collor de Mello.
Mas, de lá para cá, houve alguma evolução, embora a maioria tenha claramente optado por Fernando Henrique Cardoso tanto em 1994 como em 98. Mas, talvez pelo desgaste do apoio escandaloso a um aventureiro como Collor, os meios de comunicação exibem pelo menos algum pudor. É possível, em qualquer um deles, ler o que diz a oposição.
Na Espanha também, claro. "El País", por exemplo, não deixa de noticiar tudo o que faz e diz o primeiro-ministro Aznar. Mas a notícia já vem acompanhada da crítica, como na edição de ontem: "Aznar apresenta oito "grandes" promessas que deixou de cumprir em seu mandato".
No Brasil, a crítica seria igualmente feita, mas, em geral, em separado, no editorial ou em alguma coluna ou em uma rubrica do tipo "não é o que parece", que a Folha andou usando.
Prefiro, é claro, a fórmula Folha. Mas me pergunto se, caso não se queira ou não se possa ser independente, não seria melhor a forma espanhola, aberta e sem pudores. Pelo menos o leitor não estaria comprando propaganda como se fosse informação.


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