São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2000


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Hello, Dolly!

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Os quatro homens mais importantes da República decidiram que os três Poderes teriam um teto salarial de R$ 11.500, mais uma aposentadoria. Um teto que não é teto.
A repercussão, evidentemente, foi horrorosa, e eles mesmos passaram a criticar o acordo. FHC lavou as mãos, ACM criticou o acúmulo de uma aposentadoria, Michel Temer ficou perplexo, Carlos Velloso quer rever tudo.
De duas, uma: ou eles todos mudaram de opinião em tempo recorde ou aqueles que selaram o acordo no Alvorada não eram eles. Eram clones!
O jeito agora é unificar o discurso de que ninguém tem mais nada a ver com a história e o Congresso que se vire para chegar a uma conclusão. Com aquele detalhezinho crucial: deputados e senadores estarão legislando em causa própria.
Afora isso, todos os Poderes falam para o grande público externo (que é contra), mas cada um deles tem lá o seu próprio público interno (que é a favor). E cada um tem, também, um interesse distinto na discussão.
No Judiciário, os ministros de tribunais têm os maiores salários -que, inclusive, dão base ao teto. Eles não só não ganham nada como podem perder aposentadorias acumuladas. Mas... todo mundo que está abaixo deles, especialmente juízes e magistrados, conta com o "teto" para subir degraus e galgar paredes salariais.
No Legislativo, deputados e senadores ganham R$ 8.000, e falar em teto de R$ 11.500 soa como aumento geral. Sem perda de aposentadoria.
Já no Executivo, a discussão é outra: em qualquer caso, seja o teto de R$ 12.720, R$ 11.500 ou R$ 10.800, o Tesouro ganha. Porque economiza, por baixo, R$ 30 milhões por ano. Se cortar apenas os salários acima disso, derrubando liminares e "direitos adquiridos". E, se não sair aumentando os salários abaixo, por conta.
Ou seja: muita água ainda vai rolar, e aquela reunião dos quatro mais importantes não foi para valer. Pensando bem, eram só os clones mesmo.


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