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ANTONIO DELFIM NETTO
BC e produto potencial
QUALQUER CIDADÃO que tenha alguma intimidade com
o "chão da fábrica" sabe que,
não importando a natureza e a sofisticação do controle, toda organização tende a acomodar-se num
padrão de produção que, em condições normais de temperatura e
pressão, dá relativo conforto aos
seus participantes.
Quando solicitada (por uma variação externa), a organização aumenta (temporariamente) o nível
de esforço para responder à pressão. Quem tiver dificuldade em
aceitar esse fato (mesmo que seja
um economista acadêmico fechado
em seu universo de meditação)
basta dar um olhar relativamente
crítico ao seu entorno (e introspectivamente em si mesmo!) para introjetá-lo. Essa é uma velha "descoberta" (de 1966) do arguto economista Harvey Liebenstein. A esse nível de acomodação ele deu o
nome de X-Eficiência.
Como é evidente, a existência
desse fato lança sérias dúvidas sobre o uso apropriado do conceito
de "função de produção" e sobre a
teoria marginalista de distribuição
nela implícita. A dúvida torna-se
ameaçador pesadelo quando se
tenta agregar as funções microeconômicas ao misterioso agregado a
que se dá o nome de "produto potencial". E o ameaçador pesadelo
torna-se uma realidade horrorosa
quando usamos cegamente tal
conceito para determinar a taxa de
juro Selic (que ainda supõe conhecida a fugidia taxa de juro real
de "equilíbrio") para manter a
inflação na meta politicamente
estabelecida.
Tem toda razão o ministro Henrique Meirelles, ilustre presidente
do Banco Central ("Valor Econômico", 26/02/2010), quando afirma: "Não sabemos qual é o produto
potencial do Brasil neste momento
(...), porque ainda não há dados suficientes para analisar qual é o potencial de crescimento da economia hoje e onde vai se estabilizar a partir de 2011. O PIB potencial aumentou bastante entre 2002 e 2008".
Cuidadoso, acrescentou: "No
processo de recuperação da economia, assim como num determinado ano se operou abaixo do potencial, é possível operar em alguns
momentos acima do potencial". E,
fazendo o velho "hedge", concluiu
precavido: "A extensão desse período, e se isso é homogêneo nos
diversos setores da economia, é outro problema. Não se pode fazer esse cálculo de forma simplista. Há
uma série de outros fatores que precisam ser analisados".
É exatamente isso o que se espera da reunião do Copom de 15/16
de março. Seria pedir muito que cada membro revelasse por escrito os
fundamentos do seu voto?
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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