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CLÓVIS ROSSI
O "intolerável" tolerado
SÃO PAULO - A violência no Iraque e no Brasil é diferente apenas
na intensidade. No Iraque, tornou-se um problema agudo a partir da
invasão norte-americana. No Brasil, é crônica.
A causa, no entanto, é idêntica, se
estiver correta, como tudo indica, a
avaliação de Tony Dodge, acadêmico britânico, publicada domingo
por esta Folha. Escreveu Dodge: "O
colapso da capacidade do Estado e
a dissolução do Exército iraquiano
pelos Estados Unidos geraram um
agudo vácuo de segurança, que foi
aproveitado por grupos que usam a
violência em benefício próprio".
No Brasil, a autoridade também
entrou em colapso e, se não houve a
dissolução da polícia, ela está infiltrada pelo crime organizado.
Sempre guardadas as proporções, a morte, ontem, do policial
militar Guaracy Oliveira da Costa
acentua as semelhanças. Guaracy
era integrante do grupo responsável pela segurança dos palácios
Guanabara e Laranjeiras. De certa
forma, era guardião do equivalente
carioca da "Zona Verde", aquela
área ultraprotegida de Bagdá.
Protegida em termos. Tanto que,
durante a visita do secretário-geral
da ONU, o sul-coreano Ban Ki-Moon, as televisões do mundo inteiro mostraram o susto dele quando um míssil caiu ali perto.
No Brasil, o governador do Rio,
Sérgio Cabral, disse ser "intolerável" a morte do PM. Algum assassinato é tolerável, por acaso?
Cabral anuncia também a intenção de pedir a presença das Forças
Armadas no Rio para tentar coibir a
violência. Como já insinuou tal
apelo logo após a posse, sem resultados, é inescapável concluir que o
poder público logo se acomoda ao
"intolerável", que é o grau de violência no Rio e no país todo.
No Iraque, de repente, alguém
pode até achar que a retirada das
tropas norte-americanas permitiria restaurar o Estado. No Brasil, fizemos o estrago sozinhos e não sabemos como consertar.
crossi@uol.com.br
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