|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JOSÉ SARNEY
Um bom furacão
A EUROPA recebeu fascinada
o presidente Obama. Era como se fosse uma espécie desaparecida que vinha da América
redescoberta. Quase o mesmo sentimento com que em Rouen, em
1562, Carlos 9º recebia entre festas
e curiosidades os desconhecidos
habitantes do novo mundo.
Entre os estragos que George W.
Bush fez estava a desastrosa separação com os europeus, seus aliados e ancestrais, pelas divergências
que alimentou com seu sentimento guerreiro e sua política de fechar
caminhos.
Chega um Obama e diz que não
prescinde da Europa, que os Estados Unidos desejam exercer uma
liderança compartilhada, e não
mais a solidão das decisões de força. Em vez de um arrogante produtor de petróleo do Texas, surge um
homem simples, afável, amante do
dialogo e com os ouvidos abertos
para ouvir.
Divide opiniões e responsabilidades. Condena o erro do Iraque e
justifica os que não participaram
dessa aventura, clama aos iraquianos que assumam sua terra e seu
destino, reconhece o sofrimento
dos palestinos e propõe um novo
modelo de encarar o conflito, faz
seu giro pela Inglaterra, França,
Alemanha e República Tcheca, onde propõe uma distensão de relações e, o que é mais importante,
afasta qualquer hipótese de uma
nova Guerra Fria.
Na Turquia, recusa a tese do choque de civilizações e, com os olhos
extasiados na cúpula da Mesquita
Azul, diz que não há uma confrontação com o islã e que nosso Deus é
o mesmo deus. A Turquia foi e
sempre será um lugar estratégico
entre o Ocidente e o Oriente e ali é
o lugar próprio para falar verdades
comuns à humanidade.
O poder de convencimento de
Obama mostra que o caminho certo de combater o terrorismo como
uma prática insana que atinge toda
a humanidade é a cooperação de
vontades, e não somente a multiplicação das armas e das tropas.
A Otan entende esse chamamento e se dispõe a não só lutar no Afeganistão, mas a ajudá-lo a levantar-se com investimentos no setor econômico e social, substituindo a cultura do ópio, essa droga tão contraditória com a beleza das cores das
papoulas.
Ao Irã, em vez de chamá-lo de
"Império do Mal", chama-o a dialogar e a abandonar a aventura nuclear. Propõe banir as armas nucleares, e eu me recordo de que, nas
Nações Unidas, afirmei que, enquanto existir uma arma nuclear, o
homem estará à beira da extinção.
E admite abandonar o escudo de
mísseis da Europa desde que cesse
a proliferação nuclear.
É um presidente americano diferente. Dá alento de uma humanidade melhor. Enquanto isso, descobre-se que as chimpanzés da floresta Taí trocam sexo por alimento. Duas coisas boas.
jose-sarney@uol.com.br
JOSÉ SARNEY escreve às sextas-feiras nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Fernando Gabeira: Sem cabelos na Amazônia Próximo Texto: Frases
Índice
|