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FERNANDO GABEIRA
Sem cabelos na Amazônia
RIO DE JANEIRO - Sentamos para discutir o tráfego aéreo na Amazônia. A região viveu, nas últimas
semanas, um desastre com mortes
e até a queda de pedaços de avião.
Controle precário, pistas esburacadas, má formação dos pilotos, as
possíveis causas iam se desdobrando. Um dos participantes lembrou:
isso é quase nada comparado com
os desastres fluviais. Aí está o grande nó.
De fato, a ausência de uma regulamentação e de um controle do Estado são causas de os desastres fluviais terem triplicado, nos últimos
dois anos, no Estado do Amazonas.
Logo depois de nossa reunião, houve um naufrágio com seis mortos,
duas crianças.
Mas há ainda outro problema na
agenda: com motores descobertos,
os barcos que navegam na Amazônia arrancam o cabelo de cerca de
80 pessoas por ano, quase o mesmo
número de mortos. Eles são escalpelados, isto é, a pele do crânio é
também arrancada.
Tanto no caso do tráfego aéreo
como na perigosa navegação amazônica, o que um Parlamento pode
fazer é impulsionar a regulamentação. Era preciso de algo mais rápido: uma campanha educativa de
grande extensão e uma vigilância
severa.
Como era o único deputado de fora da região, os outros dirigiam-se a
mim, cobrando um projeto para
evitar essas tragédias cotidianas na
Amazônia. No fundo, eles queriam
ressaltar o abismo que existe entre
o nosso interesse em salvar a floresta e o descaso pela sorte dos seus
habitantes.
E eles têm razão. Os motores arrancam cabelos, navios naufragam,
chovem pedaços de avião na Amazônia, e nós aqui, num prédio sacudido por escândalos.
Como criar comissão, atrair imprensa, apressar saídas numa época
em que se fala até em fechamento
do Congresso?
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