São Paulo, sexta-feira, 10 de abril de 2009

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FERNANDO GABEIRA

Sem cabelos na Amazônia

RIO DE JANEIRO - Sentamos para discutir o tráfego aéreo na Amazônia. A região viveu, nas últimas semanas, um desastre com mortes e até a queda de pedaços de avião. Controle precário, pistas esburacadas, má formação dos pilotos, as possíveis causas iam se desdobrando. Um dos participantes lembrou: isso é quase nada comparado com os desastres fluviais. Aí está o grande nó.
De fato, a ausência de uma regulamentação e de um controle do Estado são causas de os desastres fluviais terem triplicado, nos últimos dois anos, no Estado do Amazonas. Logo depois de nossa reunião, houve um naufrágio com seis mortos, duas crianças.
Mas há ainda outro problema na agenda: com motores descobertos, os barcos que navegam na Amazônia arrancam o cabelo de cerca de 80 pessoas por ano, quase o mesmo número de mortos. Eles são escalpelados, isto é, a pele do crânio é também arrancada.
Tanto no caso do tráfego aéreo como na perigosa navegação amazônica, o que um Parlamento pode fazer é impulsionar a regulamentação. Era preciso de algo mais rápido: uma campanha educativa de grande extensão e uma vigilância severa.
Como era o único deputado de fora da região, os outros dirigiam-se a mim, cobrando um projeto para evitar essas tragédias cotidianas na Amazônia. No fundo, eles queriam ressaltar o abismo que existe entre o nosso interesse em salvar a floresta e o descaso pela sorte dos seus habitantes.
E eles têm razão. Os motores arrancam cabelos, navios naufragam, chovem pedaços de avião na Amazônia, e nós aqui, num prédio sacudido por escândalos.
Como criar comissão, atrair imprensa, apressar saídas numa época em que se fala até em fechamento do Congresso?


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