|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
O preço de Belo Monte
TURVARAM-SE as águas da licitação para construir a usina
de Belo Monte, no rio Xingu. A menos de uma semana do
leilão, apenas um consórcio
-composto pelas empresas Andrade Gutierrez, Votorantim,
Neoenergia e Vale- confirma
sua permanência na disputa, embora o governo federal mobilize
mundos e fundos para atrair um
segundo grupo e manter ao menos a aparência de competição.
Trata-se, afinal, de uma das
obras principais do PAC. Controversa desde os anos 1980, a hidrelétrica projetada para ser a
terceira maior em potência instalada do mundo tornou-se um
ponto de honra para a administração Lula e para sua candidata
a herdeira, Dilma Rousseff. O
custo de construção estimado
pelo governo é de R$ 19 bilhões.
Os mais de 11.000 megawatts
de Belo Monte pesam muito no
planejamento das próximas décadas para o setor elétrico, que
tem tradição de obras monumentais e de pouca atenção para
fontes alternativas e para a eficiência energética. Em nome da
necessidade estratégica, o governo federal arrancou do Ibama a
licença ambiental prévia para a
obra, combatida por grupos ambientalistas e indígenas, em parceria com o Ministério Público.
Em ano eleitoral, interessa ao
Planalto demonstrar que também joga duro com grandes empresários. Fixou em R$ 83 a tarifa máxima para o megawatt-hora, valor tido como apertado para
remunerar os empreendedores,
diante das incertezas envolvidas.
Outro consórcio, liderado pelas
construtoras Camargo Corrêa e
Odebrecht, anunciou sua desistência nesta semana e a atribuiu
a esse teto.
Pairam dúvidas sobre a possibilidade de materializar-se um
novo consórcio até quarta-feira,
prazo final para interessados
apresentarem as garantias financeiras exigidas. Os que se desenham carecem da presença de
empresas industriais do porte de
uma Vale ou uma Votorantim,
consideradas cruciais para o sucesso do empreendimento.
Do ângulo do público, a competição é fundamental para garantir que a energia gerada terá o
menor preço. Nas condições
atuais de turbidez, não é isso o
que se vislumbra.
Texto Anterior: Editoriais: Futuro obeso Próximo Texto: São Paulo - Fernando de Barros e Silva: Waterloo tropicalista Índice
|