São Paulo, sábado, 10 de abril de 2010

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Editoriais

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O preço de Belo Monte

TURVARAM-SE as águas da licitação para construir a usina de Belo Monte, no rio Xingu. A menos de uma semana do leilão, apenas um consórcio -composto pelas empresas Andrade Gutierrez, Votorantim, Neoenergia e Vale- confirma sua permanência na disputa, embora o governo federal mobilize mundos e fundos para atrair um segundo grupo e manter ao menos a aparência de competição.
Trata-se, afinal, de uma das obras principais do PAC. Controversa desde os anos 1980, a hidrelétrica projetada para ser a terceira maior em potência instalada do mundo tornou-se um ponto de honra para a administração Lula e para sua candidata a herdeira, Dilma Rousseff. O custo de construção estimado pelo governo é de R$ 19 bilhões.
Os mais de 11.000 megawatts de Belo Monte pesam muito no planejamento das próximas décadas para o setor elétrico, que tem tradição de obras monumentais e de pouca atenção para fontes alternativas e para a eficiência energética. Em nome da necessidade estratégica, o governo federal arrancou do Ibama a licença ambiental prévia para a obra, combatida por grupos ambientalistas e indígenas, em parceria com o Ministério Público.
Em ano eleitoral, interessa ao Planalto demonstrar que também joga duro com grandes empresários. Fixou em R$ 83 a tarifa máxima para o megawatt-hora, valor tido como apertado para remunerar os empreendedores, diante das incertezas envolvidas. Outro consórcio, liderado pelas construtoras Camargo Corrêa e Odebrecht, anunciou sua desistência nesta semana e a atribuiu a esse teto.
Pairam dúvidas sobre a possibilidade de materializar-se um novo consórcio até quarta-feira, prazo final para interessados apresentarem as garantias financeiras exigidas. Os que se desenham carecem da presença de empresas industriais do porte de uma Vale ou uma Votorantim, consideradas cruciais para o sucesso do empreendimento.
Do ângulo do público, a competição é fundamental para garantir que a energia gerada terá o menor preço. Nas condições atuais de turbidez, não é isso o que se vislumbra.


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