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Chega, sim
CLÓVIS ROSSI
SÃO PAULO - O presidente da República está carregado de razões quando diz que a sociedade não aguenta
mais transgressões. Pena que a indignação presidencial dirija-se aos alvos
errados.
Chega, sim, das transgressões cotidianamente cometidas por um punhado de políticos, reveladas todo
santo dia pelos meios de comunicação. O presidente não é, como é óbvio, culpado por elas, mas não custa
lembrar que 9 de cada 10 são de responsabilidade de representantes dos
partidos aliados de FHC.
Seus líderes não demonstraram, até
hoje, indignação nenhuma com tais
fatos nem o presidente lhes cobrou o
que quer que seja.
Chega, sim, das transgressões praticadas pelo crime organizado, que
avança crescentemente sobre o aparelho de Estado e é o principal responsável pela violência insuportável
nos grandes centros urbanos e até em
cidades médias.
Não consta que o presidente tenha
determinado uma reformulação da
impotente (ou incompetente) Polícia
Federal. Nem que tenha ameaçado
usar o Exército como o fez com as
transgressões do MST.
Não parece difícil adivinhar qual
das transgressões causa maiores males.
Chega, sim, de, ano após ano, relatório internacional após relatório internacional, ver o país exposto como
um dos mais indecentes do mundo
em matéria social. Ontem, o ministro
da Fazenda, Pedro Malan, chegou a
dizer que "as mazelas sociais humilham o Brasil perante o mundo".
É verdade, mas humilham muitíssimo mais a massa de brasileiros que
não consegue pôr um dedo acima da
infamante linha de pobreza.
Chega de ver o presidente tentar
convencer o distinto público de que
um salário mínimo acima de R$ 151
seria a desgraça da pátria, como se,
na altura em que o governo quer fixá-lo, não signifique perpetuar as
mazelas sociais que "humilham o
Brasil".
Chega, por fim, como já disse faz
tempo o então ministro Sérgio Motta,
de "masturbação sociológica".
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