São Paulo, quarta-feira, 10 de maio de 2000


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Chega, sim

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O presidente da República está carregado de razões quando diz que a sociedade não aguenta mais transgressões. Pena que a indignação presidencial dirija-se aos alvos errados.
Chega, sim, das transgressões cotidianamente cometidas por um punhado de políticos, reveladas todo santo dia pelos meios de comunicação. O presidente não é, como é óbvio, culpado por elas, mas não custa lembrar que 9 de cada 10 são de responsabilidade de representantes dos partidos aliados de FHC.
Seus líderes não demonstraram, até hoje, indignação nenhuma com tais fatos nem o presidente lhes cobrou o que quer que seja.
Chega, sim, das transgressões praticadas pelo crime organizado, que avança crescentemente sobre o aparelho de Estado e é o principal responsável pela violência insuportável nos grandes centros urbanos e até em cidades médias.
Não consta que o presidente tenha determinado uma reformulação da impotente (ou incompetente) Polícia Federal. Nem que tenha ameaçado usar o Exército como o fez com as transgressões do MST.
Não parece difícil adivinhar qual das transgressões causa maiores males.
Chega, sim, de, ano após ano, relatório internacional após relatório internacional, ver o país exposto como um dos mais indecentes do mundo em matéria social. Ontem, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, chegou a dizer que "as mazelas sociais humilham o Brasil perante o mundo".
É verdade, mas humilham muitíssimo mais a massa de brasileiros que não consegue pôr um dedo acima da infamante linha de pobreza.
Chega de ver o presidente tentar convencer o distinto público de que um salário mínimo acima de R$ 151 seria a desgraça da pátria, como se, na altura em que o governo quer fixá-lo, não signifique perpetuar as mazelas sociais que "humilham o Brasil".
Chega, por fim, como já disse faz tempo o então ministro Sérgio Motta, de "masturbação sociológica".


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