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Uma outra matriz
Avanço da cana em 2007 aumentou uso de fontes renováveis de energia, mas benefício ambiental pode ser anulado à frente
A VARIAÇÃO na matriz
energética nacional, de
um ano para o outro,
não permite extrair
conclusões firmes ou definitivas,
pois a entrada em operação de
um só empreendimento, como
uma usina elétrica de grande
porte, pode alterá-la de modo
significativo. Ainda assim, o
comparativo 2007/2006 chama
a atenção por um notável crescimento de fontes renováveis de
energia, como a hidreletricidade
e a queima de biomassa.
Na média mundial, 87,3% da
energia primária (toda a energia
injetada na economia, antes de
ser transformada ou consumida)
vem de fontes não-renováveis.
Em geral, dos chamados combustíveis fósseis (petróleo, gás
natural e carvão mineral), que
agravam o aquecimento global.
O Brasil já se encontrava numa
posição ímpar, com 44,9% de
fontes renováveis em 2006. Agora, passa a 46,4%. Isso é bom para o clima do planeta, mas também para o país, que diminui relativamente sua dependência de
recursos fadados a se esgotar.
O avanço se deve sobretudo à
energia obtida da cana-de-açúcar. Na forma de álcool combustível ou de bagaço, ela se expandiu 17,1% em 2007 e teve sua fatia na matriz ampliada de 14,5%
para 16%. Em contrapartida, decresceu a parcela representada
por petróleo e derivados -graças
aos veículos flex, que deram ao
consumidor a segurança de não
ficarem expostos às flutuações
no preço e na oferta do álcool.
Registrou-se uma taxa de aumento de demanda de energia
primária (5,9%) maior que a do
PIB (5,4%), como é usual nas
economias em desenvolvimento.
Do ponto de vista da eficiência e
do ambiente, o ideal é que a intensidade energética da produção se reduza. No caso brasileiro,
isso já se observa no âmbito mais
restrito da oferta de energia elétrica, que cresceu só 4,9%.
Melhor ainda: aí também se
observou um aumento das fontes renováveis, que já predominavam. Acompanhando a expansão da cana, a geração elétrica
por queima de biomassa teve um
dos maiores acréscimos (7,9%),
seguida pela hidráulica (6,5%).
Embora a fatia das fontes não-renováveis de eletricidade tenha
diminuído, é digno de nota o
avanço de 10,4% do carvão mineral na geração de termeletricidade, em detrimento do gás natural. Entre os combustíveis fósseis, o carvão figura como o mais
poluente e danoso para o clima.
De resto, o próprio planejamento federal prevê que a matriz
elétrica se torne mais "suja" até
2030. Seria quase duplicada a
participação do carvão na geração termelétrica (de 8% para
15%), enquanto recuaria a de hidrelétricas na eletricidade total
(de 90% para 78%). As boas notícias de 2007, assim, parecem ter
os dias contados.
Também se recomenda comedimento no entusiasmo com a
cana e o álcool. Se até o presente
não conduziram à destruição
comprovada de ecossistemas,
sua expansão futura poderá
acarretar esse efeito adverso.
Uma razão a mais para acelerar
os trabalhos de zoneamento ecológico-econômico em todo o
país, em especial nas áreas de
cerrado e de floresta amazônica.
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