São Paulo, sábado, 10 de maio de 2008

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Mais um aloprado

CADA FATO novo a respeito do dossiê sobre gastos palacianos do então presidente Fernando Henrique Cardoso impõe ao governo Lula um constrangimento. É obrigado a descartar a explicação anterior e adotar uma outra, para dar conta dos detalhes que teimam em desviar-se da versão oficial.
Escaldado, o governismo tentou inverter a ordem dos fatores no episódio mais recente. Mudou a explicação antes, horas antes, da eclosão do fato novo. Em depoimento no Senado na quarta, a ministra Dilma Rousseff citou um papel -assinado pelo general Jorge Felix, do Gabinete de Segurança Institucional- atestando que os gastos de FHC haviam deixado de ser sigilosos, por decurso de prazo, em 2007.
O governo que passou semanas dizendo que crime não era fazer dossiê -ou "banco de dados", como insiste em dizer-, mas sim dar publicidade a esses dados, de repente abandonou o argumento. Por quê? Porque na quinta-feira apareceu Aparecido: José Aparecido Pires, o funcionário apontado pela sindicância interna da Casa Civil e pela Polícia Federal como autor do vazamento.
Com o controle do Gabinete de Segurança Institucional, da Polícia Federal e da sindicância na Casa Civil, o governo elabora a versão que lhe parece mais conveniente. Não se preocupa com a credibilidade da apuração, visto que todas as explicações soam como farsa. Deseja produzir uma saída que lhe cause menos dano.
Tal saída está desenhada: afasta-se o subalterno que enviou a planilha com o dossiê para um auxiliar do senador tucano Alvaro Dias, mas se evita que o funcionário "vazador" responda a inquérito policial, no qual poderia entregar gente graúda.
Tudo termina na desculpa esfarrapada para desmandos que já celebrizou a gestão Lula. Aloprados de escalões inferiores agem por conta própria, sem que seus chefes tomem conhecimento.


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