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MARINA SILVA
Primeiro ensaio
A MAIOR parte da mídia brasileira registrou e analisou a
primeira exposição conjunta dos três candidatos à Presidência da República com maior pontuação nas pesquisas, no encontro
promovido pela Associação dos
Municípios Mineiros, em Belo Horizonte. Foi um ensaio interessante, não apenas para os candidatos,
mas para observar a própria mídia
e como ela se relaciona com o universo da política. É até compreensível que muitas vezes embarque
nos pratos prontos que lhe são oferecidos, mas a verdade é que muitas vezes, ao aceitar essa facilidade
temática, coloca à sombra aspectos
importantes do quadro político. E,
ao mesmo tempo, pode acabar servindo de escada para cacoetes da
cultura política vigente que ela
mesma critica com grande propriedade vez ou outra.
Do encontro entre presidenciáveis, podem ser extraídos dois bons
exemplos. O primeiro, a avaliação
de que o debate foi "morno". Há
que tomar cuidado para não alimentar a velha ideia de que o debate entre candidatos é melhor quanto mais o clima for tenso, com provocações, pegadinhas, ataques
mais incisivos. Talvez até com uma
ou outra baixaria. Afinal, não é isso
que se espera da política? Um bom
vale-tudo?
Seria interessante ir além da suposta mornidão e pensar se a democracia e o país não estariam
mais bem servidos com uma nova
cultura política, com menos performances midiáticas dos candidatos e mais atenção aos temas, preocupações e propostas de que seriam portadores. A estatura política elevada do debate deve ser o termo de referência adequado para
julgá-lo, e não o contrário. E isso
não se mede pela virulência das críticas mútuas, mas pela sua pertinência e justeza. É preciso evitar a
armadilha de incentivar o reducionismo de confrontos maniqueístas, de termos absolutos. É uma
obrigação ética dos candidatos valorizar o que de bom foi feito antes,
mesmo por oponentes, e aperfeiçoar e inovar a partir daí.
O segundo exemplo liga-se à
ideia da "eleição plebiscitária". Pode até ser uma expressão de forte
apelo, mas é empobrecedora e autoritária. Esse primeiro ensaio de
debate foi a primeira oportunidade
para desconstruí-la, mostrando o
equilíbrio e o desempenho reais
presentes no debate, em lugar de
dar curso ao entendimento de que
as eleições já estão decididas entre
apenas dois contendores. Infelizmente não foi o que aconteceu,
pois o recorte analítico mais utilizado foi exatamente esse.
Há inúmeros fatores na agenda
das eleições. Quem ganha e quem
perde é apenas um deles, ainda que
muito importante. O que faria diferença seria marcar este momento
pela inflexão para uma nova cultura política. Não é simples lutar contra os estereótipos, mas seria uma
enorme contribuição.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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