São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2011 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O futuro de uma relação histórica JOSÉ ANTÔNIO MARCONDES DE CARVALHO
Em 1859, Brasil e Venezuela celebraram tratado de limites bilateral. Trata-se de peça rara da política exterior brasileira, pois precede em cerca de 50 anos as grandes tratativas do barão de Rio Branco, que permitiram a fixação de fronteiras com muitos de nossos vizinhos. O tratado, até hoje vigente, reflete o zelo entre os dois Estados para que a navegação fluvial, principal interesse de ambos à época no que respeita à região amazônica, fosse protegida e impulsionada em clima de absoluta cordialidade. Mais de 150 anos depois, é fácil constatar que a evolução das relações bilaterais forjou laços que vão muito além da concórdia política -em si mesma fundamental. O diálogo bilateral hoje abrange extenso leque de temas de comum interesse a brasileiros e venezuelanos. A visita do mandatário venezuelano a Brasília permitirá assegurar seguimento às diferentes frentes de colaboração bilaterais existentes e acertar os passos futuros do já longo processo de estreitamento das relações. As áreas de parceria entre Brasil e Venezuela espelham a complexidade dos vínculos que unem duas grandes economias da América do Sul. No âmbito econômico e comercial, despontam indicadores que atestam o grau de complementaridade entre os dois países. As trocas bilaterais, em 2010, alcançaram US$ 4,68 bilhões, consolidando a posição do Brasil como o terceiro sócio comercial da Venezuela e o seu primeiro parceiro sul-americano. Diversas empresas brasileiras contribuem para o desenvolvimento econômico e social e para a renovação da infraestrutura venezuelana. A Venezuela, por sua vez, desempenha, para o Brasil, relevante papel na área energética, exemplificado pelo fornecimento de eletricidade a Roraima, energia esta que é produzida no complexo hidrelétrico do rio Caroní. Prosseguem as negociações bilaterais referentes ao projeto da refinaria Abreu e Lima em Pernambuco, que prevê a participação da Petrobrás e da PDVSA, companhia estatal petrolífera venezuelana. Tão importante quanto o comércio de bens e serviços é a cooperação técnica, um dos eixos estratégicos das relações bilaterais. CEF, Ipea, Embrapa e ABDI são instituições brasileiras hoje presentes na Venezuela, onde oferecem ajuda para a capacitação de quadros de agências governamentais nos mais variados setores: habitação, planejamento territorial, agricultura, política industrial. A dinâmica da aproximação bilateral inspira-se no princípio da valorização da América do Sul como espaço de paz e de cooperação. É nesse espírito que Brasília e Caracas, além de buscarem a integração bilateral, têm atuado ativamente em foros de convergência regional, a exemplo do Mercosul -cujo processo de adesão plena da Venezuela esperamos seja prontamente concluído-, da União de Nações Sul-Americanas e da nascente Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac). No contexto de relacionamento de tal importância histórica e, ao mesmo tempo, de inequívoca atualidade, a reunião entre os presidentes do Brasil e da Venezuela reafirma a determinação dos mandatários em seguir explorando o vasto potencial da parceria bilateral para a consecução das metas que compartilhamos em matéria de desenvolvimento sustentável com inclusão social. JOSÉ ANTÔNIO MARCONDES DE CARVALHO é embaixador do Brasil em Caracas. Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: Vladimir Safatle: Um equívoco Próximo Texto: Morton Scheinberg: Novos progressos no controle do lúpus Índice | Comunicar Erros |
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