São Paulo, Segunda-feira, 10 de Maio de 1999
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PAINEL DO LEITOR

Dossiê Caribe

"É absolutamente falsa a frase que o sr. Fernando Rodrigues me atribuiu em sua coluna de sábado último: "eu sabia que você estava atrás do caso e me antecipei", a propósito da farsa e da provocação do chamado "dossiê Cayman". Além de eu não ter dito essa frase, nem na forma nem no conteúdo, a idéia, em si mesma, seria estapafúrdia, face à sequência e à realidade dos fatos que acompanharam aquela provocação."
José Serra, ministro da Saúde (Brasília, DF)
Resposta do jornalista Fernando Rodrigues - "O ministro está com a memória fraca. Pronunciou a frase citada numa tarde de novembro de 98, em seu gabinete, ocasião em que derrubou dois copos de água em sua escrivaninha. O ministro estava nervoso. Talvez tenha se esquecido do nosso encontro. Mas eu não me esqueci. E fiz anotações."

"Quer dizer que a Polícia Federal quer quebrar o sigilo telefônico da Folha e do jornalista Fernando Rodrigues? Que beleza! Que tal chamar os militares de volta? Talvez assim o sr. Fernando Henrique Cardoso volte a demonstrar suas preocupações com as questões sociais e, sobretudo, com essa tal de liberdade."
Adelino Rodrigues, vereador de Santos pelo PSB (Santos, SP)

Fundão e prefeituras

"Nos idos de 1995, como deputado federal, tanto na Comissão de Justiça da Câmara quanto no plenário votei favoravelmente à emenda constitucional que aprovou o Fundo de Desenvolvimento da Educação Fundamental e Valorização do Magistério (Fundef).
Hoje, ainda votaria da mesma forma se me assegurassem que a participação de União, Estados e municípios seria feita de forma equânime, o que, infelizmente, não vem acontecendo.
Pelo mecanismo do Fundo, ao estabelecer o custo médio em R$ 315, muito abaixo do justo valor, que não poderia ser jamais inferior a R$ 500, fica diminuída a contribuição da União e elevadas as contribuições de Estados e municípios para o Fundef, conforme demonstrado acima.
Tanto isto é verdade, que a União resolveu atenuar a situação dos Estados fazendo um empréstimo de 80% do que perderam em 1998 com o Fundo, através da Caixa Econômica Federal.
Quanto aos municípios, nem uma palavra, nenhuma ajuda, somente mais aperto, ao proibi-los de rolar qualquer débito, mesmo em bancos privados."
Roberto Magalhães, prefeito de Recife (Recife, PE)

Previdência

"Estamos de fato sob a batuta de um Estado criativo: a Constituição de 1988 abriu às prefeituras a oportunidade de criação de fundos de previdência para seus servidores.
Com muita velocidade, Estados e municípios, para fugirem à obrigação de recolherem contribuições previdenciárias ao INSS, correram a formar seus próprios institutos de previdência, sem nenhuma preocupação com o fluxo de caixa ou com a responsabilidade de pagamento, no futuro, das aposentadorias e das pensões.
A Previdência Social, com grandes problemas de caixa, saiu a perseguir uma reforma, restringindo o acesso ao seguro social, sem contudo rever os valores das contribuições.
Agora o Estado resolve utilizar os recursos adicionais obtidos pela reforma da Previdência para ressarcir as espertas unidades da federação que criaram fundos próprios para fugir ao INSS. Apelando para a velha hipocrisia: "os recursos devolvidos aos Estados e aos municípios somente serão utilizados para pagamento de aposentadorias e pensões". Acredite quem quiser."
Jackson Vasconcelos, ex-superintendente estadual do INSS/RJ (Rio de Janeiro, RJ)

Honestidade pública e privada

"Tenho lido e ouvido algumas críticas com relação ao desrespeito às leis e à falta de educação por parte dos cidadãos comuns, comparando-os com os políticos. Acho que não é por aí.
A obrigação dos políticos é justamente promover a educação, fazer cumprir as leis e empregar inteligentemente as verbas públicas em benefício do povo.
A postura errada do cidadão, como dar propina para o fiscal, origina-se exatamente do fato de os políticos não estarem exercendo suas obrigações. Se existe a propina, significa que a fiscalização pública é falha -e assim sucessivamente. A culpa maior do cidadão é, na verdade, ter votado nesses elementos que trabalham apenas em causa própria."
André Caratanasov Filho (Santo André, SP)

Revista em crianças

"Vergonhosa a solução encontrada pelas autoridades paranaenses a fim de conter a violência nas escolas públicas. Submeter os estudantes pobres a revistas por policiais só vem a reafirmar sua exclusão social e em nada contribui para a sua educação.
Se a escola não tem competência para educar os indivíduos deveria ceder seu espaço para a construção de penitenciárias. Dessa forma, talvez, esses "educadores" que encaram seus alunos como marginais terão, no futuro, emprego garantido como carcereiros."
Ivan Rodrigues Martin (São Paulo, SP)

Iugoslávia

"Como disse Erasmo, em seu "Lamentação da Paz", citando São Paulo, a paz mais injusta é preferível à guerra mais justa. É hora de efetuar a defesa da paz. Refiro-me ao desastre representado pela guerra entre Iugoslávia e Otan.
Não se trata somente dos EUA, mas dos aliados de modo geral. A França, por exemplo, no noticiário do canal de TV TF1, limita-se a mostrar os refugiados de Kosovo. O efeito da ação empreendida pelos países ocidentais foi contrário ao propalado. Não se deve combater o inimigo com suas próprias armas, sob risco de perder a diferenciação entre o inimigo que se quer combater e si próprio.
A solução, possível antes do início do bombardeio, seria efetuar um julgamento de Milosevic e dos comandantes sérvios por crimes de guerra, crimes contra a humanidade e as demais penalidades previstas pelas cortes internacionais. Os EUA não podem ser os gendarmes do mundo, que não pode, atualmente, ser chamado de civilizado, pois não há diferença essencial entre os aliados e a Sérvia -ambos são culpados de crime contra a humanidade.
O bombardeio está tornando a paz impossível!"
Luiz Paulo Rouanet, professor de filosofia da PUC-SP (São Paulo, SP)

De ovos e bancos

"Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha? Os bancos ganharam dinheiro com informações privilegiadas sobre a desvalorização quando passaram a comprar dólares ou o fato de comprarem dólares em volumes muito grandes é que provocou a liberação do câmbio e a consequente desvalorização?
A primarice de um deputado federal e também a falta de análise deste fato por parte dos comentaristas econômicos dos veículos de comunicação é uma vergonha."
Ronaldo J.N. de Carvalho (São Paulo, SP)

Popularidade histórica

"Nem é preciso pesquisar para saber que o governo brasileiro atinge no momento um dos índices mais baixos de credibilidade desde a carta de Caminha. Será que já não é tempo de questionarmos essa gigantesca máquina de produzir defeitos (desvios de verbas, péssimo serviço, desleixo em geral, gerador de miséria, crimes etc.)?
Proponho o desmonte gradativo e acelerado do Estado, deixando a sociedade assumir todas as funções que o governo finge cumprir. Já estamos maduros o suficiente. Em vez de pagarmos impostos, pagaríamos pelos serviços, como já está acontecendo com os convênios médicos, por exemplo. Com menos "custo Brasil", haverá mais empregos. Chega de (des)governo. FHC de volta às faculdades. Se as faculdades o aceitarem como professor."
Jaime P. Silva (São Paulo, SP)


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