São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004

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O CRESCIMENTO DE PALOCCI

Os indicadores relativos ao crescimento do PIB serviram para renovar o prestígio do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que ressurgiu em cena como uma espécie de rosto bem-sucedido da administração petista. Ao que se sabe, a iniciativa de fortalecê-lo partiu do próprio Planalto. Não por acaso, o ministro da Casa Civil, José Dirceu, cujas divergências com a Fazenda são públicas, tratou ontem de ressaltar sua "lealdade canina" ao presidente e de anunciar respaldo irrestrito a Palocci -não sem deixar transparecer que o apoio é antes fruto de uma determinação superior do que de suas convicções pessoais.
É natural que depois de um ano deplorável do ponto de vista do crescimento, do emprego e da renda, o país comece a se sentir mais aliviado e que Palocci se beneficie com isso.
Do ponto de vista dos fundamentos econômicos, o principal avanço sob sua gestão foi o expressivo aumento do saldo comercial, algo que, sem ignorar as ações governamentais, deveu-se essencialmente às mudanças no câmbio -além do baixo dinamismo do mercado interno e do cenário externo favorável.
Certamente que o controle da inflação merece ser saudado, mas nada teve de extraordinário: usou-se aqui, com exageros talvez desnecessários e custosos, a consagrada receita de juros estratosféricos e recessão.
Se a retomada da atividade é um fato positivo, ela não deve turvar a percepção de que a economia vem de uma base comparativa extremamente baixa e que os desafios para sustentar um crescimento vigoroso e contínuo ainda não foram vencidos. As taxas de juros permanecem elevadas, os "spreads" cobrados no mercado são uma anomalia, os gargalos de infra-estrutura persistem, o sistema tributário não foi reformado, marcos regulatórios ainda aguardam regulamentação e a vulnerabilidade externa da economia, mesmo com o excelente saldo comercial, não recebeu a necessária "blindagem" -o que exigiria, entre outras medidas, um forte aumento das reservas em divisas do Banco Central.
De certo modo, Palocci conseguiu levar o país a um ponto semelhante a outros em que já se esteve no passado. Resta o principal: criar as condições para que, no futuro, tudo não venha, mais uma vez, a perder-se.


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