São Paulo, quinta-feira, 10 de junho de 2004

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RECUO ESTRATÉGICO

A nova resolução da ONU sobre o Iraque, aprovada anteontem por unanimidade no Conselho de Segurança, tem o raro dom de, por razões diferentes, contentar tanto a Casa Branca quanto os líderes dos principais países que se opuseram à guerra -e tudo isso sem alterar em praticamente nada a situação dos combates no país.
O presidente George W. Bush, cuja campanha para a reeleição se ressentiu dos reveses sofridos no Oriente Médio, poderá agora dizer que tem um plano para sair do Iraque (a resolução prevê que as tropas dos EUA fiquem só até janeiro de 2006) e que conta com apoio de aliados como a França e a Alemanha.
O presidente francês, Jacques Chirac, e o chanceler alemão, Gerhard Schröder, por seu turno, poderão dizer que arrancaram dos EUA um recuo quase total na questão da soberania. Com efeito, até poucas semanas atrás, a Casa Branca falava em autoridade relativa, sem dar ao governo provisório iraquiano o direito de aprovar leis, decidir sobre a economia ou comandar seu Exército. Pelo que foi aprovado, a nova administração iraquiana terá "soberania total", incluindo controle sobre suas Forças Armadas e jazidas petrolíferas.
Já no plano real da segurança no Iraque, o poder da resolução parece mais limitado. Amplos setores da população iraquiana vêem o novo governo com desconfiança. O premiê Ayad Allawi é tido como um agente da CIA que conduz um governo títere pró-americano. O texto aprovado dificilmente mudará isso.
Mesmo a retirada das tropas norte-americanas em 2006 precisa ser vista com cautela. Ninguém deve imaginar que Bush mobilizou mais de 100 mil soldados numa guerra do outro lado do mundo para voltar para casa de mãos abanando. É pouco provável que os EUA deixem a região se não considerarem que as reservas de petróleo estarão sob cuidados de um regime amigo. Isso é especialmente verdade agora que a monarquia da Arábia Saudita está por um fio.


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