São Paulo, sábado, 10 de junho de 2006

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Ícone do terror

A MORTE do arquiterrorista jordaniano Abu Musab al Zarqawi é uma boa notícia para George W. Bush, uma das poucas que ele pôde mostrar nos últimos meses no Iraque. Mas, infelizmente, é muito pouco provável que a saída de cena do líder da rede terrorista Al Qaeda no Iraque resolva ou mesmo diminua o grau de violência no país.
É o próprio Iraque que fornece o precedente. Washington foi célere ao ligar os primeiros focos de insurgência a Saddam Hussein e seus seguidores mais próximos. Alguns meses depois, os filhos do ex-ditador foram mortos, e o próprio Saddam, capturado, sem que se notassem quedas significativas no nível dos ataques, que continuam até hoje.
Al Zarqawi, como Osama bin Laden, é um ícone do terrorismo. Planejou e executou algumas das ações mais selvagens no Iraque nos últimos anos. É um símbolo que parece ter inspirado jovens radicais de diversos países islâmicos a engajar-se na "guerra santa" contra os EUA, lançando-se em missões suicidas.
Segundo alguns observadores, Al Zarqawi também foi importante como indutor da mudança no perfil dos ataques, que passaram de ações contra as tropas estrangeiras para atentados direcionados contra a maioria xiita, com vistas a atirar o país numa guerra civil de larga escala.
Mas, também como Bin Laden, o papel de Al Zarqawi na organização da insurgência não parece central. Cada célula terrorista age com alto grau de autonomia, e sua morte não deverá alterar substancialmente o cenário.
Pôr um fim à violência no Iraque vai exigir muito mais. Vai ser preciso, antes de tudo, criar um Estado que seja percebido como legítimo pelos principais grupos étnicos do país. Era justamente para tornar isso impossível que Al Zarqawi vinha fomentando a violência entre sunitas e xiitas. Até aqui, vinha obtendo sucesso.


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