|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Nas águas turvas
KÜHLUNGSBORN - Volto à pergunta que fiz ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva na quinta-feira:
queria saber se o comportamento
dele, ao afagar os envolvimentos no
escândalo dos mensaleiros, não
criava a sensação de que o presidente não se incomoda com os casos de
corrupção.
Lula respondeu com a tese de que
a corrupção só aparece porque há
um processo supostamente inédito
de investigação. O raciocínio foi o
de que corrupção brota com investigação como petróleo brota com
prospecção. E ainda terminou dizendo que não tem que fazer pregação contra a corrupção, "mas ação".
Engano seu, presidente. Basta ler
o seguinte trecho do relatório da
Polícia Federal sobre o caso de Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão
de Lula: "A análise da conversa indica que Vavá está usando o nome
de seu irmão, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para
conseguir dinheiro junto a Nilton
Cezar Servo, contraventor que tem
como principal fonte de renda a exploração do jogo de azar através de
máquinas caça-níqueis em diversos
Estados da Federação, tais como
Mato Grosso do Sul, Paraná, São
Paulo e Rondônia".
Ou, posto de outra forma: fica claro que nem o próprio irmão nem
contraventores sentiram firmeza
na ação do presidente da República
contra a corrupção. Tampouco inibiram-se ante um ambiente de investigação, pela Polícia Federal, supostamente inédito.
Claro que, mesmo que as investigações tenham de fato profundidade e rigor inéditos e que o presidente pregue diariamente contra a corrupção, ela continuará existindo,
como existe em todo o mundo.
Mas a leniência com que Lula tratou "mensaleiros" e "aloprados", a
facilidade com que abraça políticos
que ele próprio antes acusara de
trambicagens variadas só ajuda a
manter um ambiente cavernoso,
turvo, em cujas águas pescam corruptos e corruptores.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: George e Vladimir Próximo Texto: Brasília - Valdo Cruz: Dóceis inimigos Índice
|